A Ambipar levou à Justiça uma dura narrativa sobre o origem da crise o que motivou o pedido de recuperação judicial. No centro está o ex-diretor financeiro João Daniel Piran de Arruda. A petição afirma que, após 15 anos no Bank of America, ele chegou “no seu peso em ouro” em agosto de 2024 e, em vez de elevar o grupo, “empurrou-o para a beira do precipício”. A empresa fala sobre uma investigação criminal já aberta e que busca reparações civis.
O documento judicial também descreve um ambiente de “bullying corporativo” mesmo após liminares de proteção. Segundo a Ambipar, aditivos “desastrosos” nos contratos de swap com o Deutsche Bank transformaram um hedge cambial em “derivativos tóxicos”, com chamadas de margem altas e repentinas, drenando caixa. A reação dos bancos, como a declaração de vencimento antecipado da dívida por parte do Santander, teria desencadeado o risco de vencimento cruzado e um efeito dominó na estrutura financeira.
“Há algumas semanas, a apresentação deste pedido pelo Grupo Ambipar era algo impensável: a sua operação é sólida, o seu faturamento é consistente, a sua base de clientes é fiel e os serviços prestados em termos de gestão ambiental e transformação ecológica são reconhecidos internacionalmente pela sua excelência… [o desafio] é regenerar-se.”
A empresa afirma que as operações continuam normais. Ele diz que não houve demissões por conta do processo. Informa que os salários de mais de 23 mil trabalhadores estão em dia. E que pretende honrar obrigações não passíveis de cobrança nos termos originais.
O que a Ambipar alega contra o ex-CFO
A petição alega que Arruda liderou a migração e posterior alteração dos swaps do Bank of America para o Deutsche Bank. As alterações incluíram uma cláusula PIK (Payment in Kind), que permite ao banco liquidar diferenças entregando os títulos verdes da Ambipar Lux “pelo valor de face”, sem refletir os preços de mercado. A empresa afirma que isso alterou a natureza das operações, introduzindo uma componente especulativa ligada ao preço dos títulos.
A Ambipar relata que, após ataques “orquestrados” aos títulos e queda anômala dos preços, Arruda convocou teleconferência com os detentores de títulos e, no dia seguinte, pediu demissão por e-mail às 22h30, sem transição, levando ao cancelamento da reunião. A saída teria intensificado o pânico do mercado.
A empresa registra a abertura de inquérito criminal para apurar a conduta de Arruda e “associados”. E informa que cobrará reparações civis.
O que diz a defesa do ex-CFO
Procurada, a defesa de João Arruda afirmou que os executivos da Ambipar estão “plantando uma narrativa completamente falsa”, “claramente procurando um bode expiatório e plantando notícias falsas”.
Segundo a defesa, o ex-diretor financeiro “não assinou o aditivo com o Deutsche Bank, nem o contrato, o que já está mais do que comprovado pelos documentos que a Ambipar anexou à medida cautelar”. As assinaturas, afirma, seriam de “dois diretores estatutários próximos ao controlador, Luciana e Thiago”, enquanto “o contrato foi assinado pelo próprio filho de Tércio Borlenghi, Guilherme”.
A defesa acrescentou ainda que “foi o Bank of America quem convocou uma reunião com investidores — a própria Bloomberg anunciou no seu terminal — e não houve nenhuma chamada feita por João”. “Há provas documentais. Tudo é preto e branco”, concluiu a defesa.
‘Bullying empresarial’ e reação em cadeia
A Ambipar cita chamadas de margem que totalizaram cerca de R$ 200 milhões e outro aporte exigido de R$ 60 milhões do Deutsche Bank. Reclama de cálculos “unilaterais” que teriam incorporado na margem a queda do preço dos títulos PIK, o que, segundo a empresa, distorceu o conceito de garantia e estrangulou o caixa.
Paralelamente, o Santander declarou vencimento antecipado de cerca de US$ 120 milhões em 24 horas. A Ambipar afirma que, dadas as cláusulas de cross default em diversos instrumentos – incluindo títulos que somam mais de US$ 1 bilhão e debêntures de subsidiárias – a cascata de vencimentos tornaria a operação insustentável sem intervenção judicial.
COEs e danos à reputação
A petição registra os danos reputacionais decorrentes de COEs lastreados em títulos da Ambipar que foram vendidos no mercado com slogans como “IPCA+11,75%” e “sem exposição cambial”. Muitos investidores minoritários teriam sofrido perdas superiores a 90% após acionarem os gatilhos de liquidação. A empresa afirma que não participou da concepção, oferta ou distribuição desses produtos, mas que se associou aos “COEs da Ambipar”, em detrimento da sua imagem.
Situação atual e defesa da recuperação
“A recuperação judicial é, portanto, um instrumento legítimo e necessário para reestruturação de suas obrigações, permitindo ao grupo se regenerar para continuar regenerando o mundo em que atua.”
A Ambipar sustenta que o pedido não é “fabricado”, mas sim resultado da soma de aditivos em derivativos, pânico financeiro e aceleração de vencimentos. Reitera que busca preservar empregos, contratos, impostos e serviços ambientais considerados essenciais. Afirma a relevância económica do grupo, com 600 bases operacionais e mais de 12 mil acionistas.
A empresa informa ainda que liminares já determinaram a suspensão das execuções e das cláusulas de vencimento antecipado por 30 dias, prorrogáveis. E que as decisões em agravos de instrumento teriam mantido os efeitos, reconhecendo risco à continuidade das operações e à competência do tribunal empresarial do Rio de Janeiro.
Preço de mercado e ações
A Ambipar registra na petição o colapso do jornal. Afirma que o AMBP3 caiu de R$ 12,15 em 23/09/2024 para R$ 0,58, uma queda de cerca de 95%. Relata que os títulos verdes de 2.033 são agora negociados a cerca de 13% do valor nominal, um desconto médio de 87%.
Próximas etapas
A empresa solicita o processamento da recuperação, homologação das proteções já concedidas e proteção contra atos de constrição, com o objetivo de estabilizar o fluxo de caixa e negociar um plano com os credores. Alega que as medidas são necessárias para evitar o “efeito dominó” dos vencimentos cruzados e proteger o valor das operações.
Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Céu | Canal 592 ao vivo | Canal 187 Olá | Operadores regionais
TV SINAL ABERTO: antena parabólica canal 562
ONLINE: www.timesbrasil.com.br | YouTube
Canais RÁPIDOS: Samsung TV Plus, canais LG, canais TCL, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos fluxos