A COP30 entra na sua fase mais sensível com a chegada de chefes de estado, líderes do agronegócio e negociadores que enfrentam o desafio de desbloquear acordos num quadro global marcado por disputas políticas e pressões económicas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está diretamente empenhado em salvar a conferência. Ele confirmou que retornará a Belém no dia 19 para uma agenda que visa fortalecer a governança climática. Participará numa reunião com o secretário-geral da ONU, António Guterres, num esforço conjunto para reforçar o multilateralismo ambiental.
Na carta enviada aos participantes da Cúpula dos Povos, Lula destacou que também se reunirá com representantes de países, organizações da sociedade civil, povos indígenas, populações tradicionais, governadores e prefeitos. O objetivo é alinhar os compromissos em matéria de políticas de transição justa, adaptação e proteção ambiental.
Em Belém, os últimos dias da conferência aumentam as expectativas sobre os avanços no financiamento climático, na preservação das florestas tropicais e na governança internacional —pilares considerados interdependentes para a implementação do Acordo de Paris até 2035.
A ONU também exige exigências directas de resultados “sólidos e mensuráveis”, para que os países possam procurar ultrapassar impasses que vão desde a distribuição de responsabilidades financeiras até novas regras para o sector privado, numa altura em que o mundo tenta conciliar objectivos ambientais com estabilidade fiscal e competitividade agrícola.
O secretário executivo da UNFCCC, Simon Stiell, elevou o tom ao criticar a lentidão das negociações e pedir aos países que demonstrassem flexibilidade. Para ele, temas considerados secundários por algumas delegações representam prioridades vitais para outras, especialmente entre nações vulneráveis.
Segundo Stiell, a COP30 não pode repetir o padrão de conferências que acumulam compromissos sem mecanismos de entrega claros. Salientou que 2030 e 2035 são marcos urgentes para transformar promessas em ações concretas e que a falta de consenso ameaça a credibilidade global dos esforços climáticos.
Impasse sobre plano de US$ 1,3 trilhão expõe divisão entre países
O principal foco de tensão é o plano elaborado pelas presidências da COP29 (Azerbaijão) e da COP30 (Brasil) para mobilizar US$ 1,3 trilhão anualmente até 2035. A proposta é considerada o maior esforço coordenado de financiamento climático já sugerido numa COP – e também um dos mais controversos.
Suportes e resistências
- Apoiar: Noruega, Reino Unido e União Europeia.
- Céticos: Quénia e outras delegações africanas.
- Resistente: Japão e China, com críticas à legitimidade da discussão.
O Japão afirmou que o texto não faz parte do mandato oficial da COP — não houve acordo prévio para que o relatório fosse negociado na conferência. A China reconheceu o mérito técnico do documento, mas reforçou que não faz parte da agenda mandatada.
O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, respondeu afirmando que as críticas dizem menos respeito ao conteúdo e mais à sensibilidade das questões financeiras, que afetam instituições como Banco Mundial, FMI e bancos regionais. Segundo ele, o “desconforto institucional” não invalida a urgência da agenda.
O que o plano de financiamento oferece
O chamado Roteiro de Baku a Belém reúne sugestões para reorganizar os fluxos financeiros globais, modernizar as regulamentações e expandir o acesso dos países em desenvolvimento ao crédito de baixo custo. Está estruturado em cinco frentes (os 5Rs) e define metas ambiciosas, com potencial para remodelar parte do sistema financeiro internacional. As 5 frentes prioritárias até 2035 são:
- Reabastecimento de doações e capital concessional.
- Reequilíbrio do espaço fiscal e da gestão da dívida.
- Redirecionamento de financiamento privado para projetos verdes.
- Reestruturação da capacidade institucional à escala climática.
- Reformulação dos sistemas financeiros para fluxos de capitais equitativos.
O Roteiro detalha mecanismos concretos capazes de aumentar a arrecadação de fundos global. Abaixo, as medidas com maior potencial de mobilização, acompanhadas das suas estimativas e da lógica económica de cada uma. Além disso, o plano aborda formas de angariar este montante, incluindo:
1. Preço do carbono
Com potencial para mobilizar entre 20 mil milhões e 4,9 biliões de dólares por ano, a tarifação do carbono é hoje uma das ferramentas mais discutidas para expandir o financiamento climático. A lógica é simples: atribuir um valor financeiro a cada tonelada de CO₂ emitida, criando um estímulo económico para reduzir as emissões e gerar receitas estáveis para as políticas ambientais. Como funciona:
- Pode ser implementado através de tributação direta (imposto sobre carbono) ou de sistemas de comércio de emissões (ETS).
- A arrecadação varia de acordo com o preço praticado por tonelada e a quantidade de setores incluídos na regulamentação.
- Uma adoção mais coordenada entre os países reduziria as distorções competitivas e evitaria a migração de indústrias para regiões com regras ambientais mais brandas.
2. Tributação de grandes fortunas
Com potencial para arrecadar entre 200 mil milhões e 1,3 biliões de dólares anuais, a tributação de grandes fortunas reaparece nas discussões climáticas como uma fonte alternativa para financiar a transição verde. A proposta visa indivíduos ultra-ricos, aplicando taxas progressivas sobre os seus activos. Como funciona:
- Concentra-se em ativos financeiros, imóveis, aplicações offshore e bens de alto valor.
- Os países da OCDE têm uma maior capacidade de arrecadação, devido à elevada desigualdade de riqueza e ao grande volume de riqueza acumulada.
3. Impostos sobre aviação e transporte marítimo
Com potencial para gerar entre 4 mil milhões de dólares e 223 mil milhões de dólares anuais, a tributação da aviação e do transporte marítimo entra em debate como uma alternativa para financiar a transição em dois dos sectores mais difíceis de descarbonizar. A proposta procura equilibrar os custos operacionais com a necessidade de reduzir as emissões globais. Como funciona:
- Tributação sobre combustíveis fósseis utilizados por aviões e navios.
- Cobrança direta por tonelada de CO₂ emitida.
- Tarifas aplicadas a rotas internacionais ou taxas portuárias com critérios ambientais.
4. Cobrança sobre bens específicos (luxo, militar e tecnologia premium)
Estimada em arrecadar entre US$ 34 bilhões e US$ 112 bilhões por ano, a medida propõe tributar setores considerados de alto impacto ambiental ou de alto valor agregado, como jatos, iates, artigos de luxo e equipamentos militares. A ideia é direcionar parte desse consumo para financiar ações climáticas. Como funciona:
- A tributação pode ser global ou alinhada entre as grandes economias para evitar distorções.
- Afeta uma parcela mínima da população, concentrada no topo da pirâmide de renda.
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Fundo Florestal avança, mas fica longe da meta
O TFFF é a principal aposta diplomática do Brasil nesta COP. Criado para funcionar como um mecanismo de preservação permanente, remunera os investidores que contribuem para manter as florestas tropicais em pé — uma tentativa de gerar retornos financeiros estáveis com a conservação.
A proposta busca corrigir o baixo fluxo de financiamento para países que possuem as maiores áreas florestais do mundo, mas que receberam pouco apoio internacional nas últimas décadas. Mesmo com as novas contribuições anunciadas, o fundo ainda está longe do seu objetivo inicial e enfrenta o desafio de transformar o interesse político em compromisso financeiro duradouro.
Contribuições anunciadas na COP30
- Noruega: US$ 3 bilhões em dez anos
- Brasil: US$ 1 bilhão
- Indonésia: US$ 1 bilhão
- França: 500 milhões de euros
- Portugal: 1 milhão de euros (contribuição simbólica)
Apesar do optimismo inicial, o fundo ainda acrescenta menos de um quarto da meta de 25 mil milhões de dólares em contribuições governamentais. Antes da COP, Marina Silva esperava chegar US$ 10 bilhões; Até agora, o total é US$ 5,582 bilhões.
Agro entra com agenda de adaptação e crédito verde
Com a ampliação da presença de bancos multilaterais e instituições financeiras, o agronegócio ganhou espaço na COP30. A transição produtiva, a expansão das linhas de crédito verdes e a adaptação das cadeias agrícolas às mudanças climáticas tornaram-se elementos centrais das negociações.
- BID anunciado US$ 6 bilhõesincluindo hedge cambial, crédito para empresas amazônicas e financiamento para cidades em adaptação.
- CAF lançou bônus de resiliência US$ 100 milhões.
- As parcerias em bioeconomia e baixas emissões agrícolas foram ampliadas.
O setor agro aparece como um ator chave tanto pela sua responsabilidade na redução das emissões como pelo seu impacto direto nas economias latino-americanas. Apesar dos anúncios, o Brasil continua tendo um fluxo limitado de doações e investimentos externos para o clima. As principais contribuições são:
- Fundo Amazônia: R$ 157 milhões (UE + Suíça).
- Novo Fundo Climático (BNDES + GCF): Inicial de US$ 400 milhões, com meta de atingir US$ 1 bilhão.
Doações anuais recentes: média de US$ 208 milhões por ano, segundo o iCS — um valor inferior ao necessário para mitigação e adaptação.
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