A recente reunião entre o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Mauro Vieirae o Secretário de Estado americano, Marco Rubiomarcou o início de uma nova etapa nas relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. A avaliação é do economista Roberto Gianettiex-secretário de Comércio Exterior, que vê o diálogo como “o primeiro passo de muitos” para a reversão ao tarifa imposta por Washington aos produtos brasileiros.
Segundo Gianetti, o processo será demorado. “Não será uma conversa fácil nem simples. Isso ainda deve durar até o final do ano, ou quem sabe até o início do próximo, até chegarmos a uma solução consensual”, avaliou. Para ele, a retomada do diálogo é positivamas o Brasil precisa agir com estratégia: “Paciência para fazer bem, porque fazer mal é fácil”.
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As tarifas impostas pelos Estados Unidos, que atingiram 50% em alguns setoressão considerados prejudicial para ambos os lados. Gianetti lembra que, na prática, “quem paga é o consumidor americano”. O aumento dos preços dos produtos importados do Brasil reduz o consumo nos EUA e afeta as exportações brasileiras.
Remover respingo
“O café é um exemplo clássico”, disse o economista. “Eles não podem prescindir do café brasileiro, essencial para mistura ali produzido. Porém, com a tarifa, o produto fica mais caro e o consumo cai. É um problema de interesse mútuo: o preço não interessa a ninguém.”
Apesar dos efeitos negativos, Gianetti acredita que os Estados Unidos são os mais afetados. “É um tiro no pé. Não vão conseguir transferir a indústria e isso também vai encarecer o custo de vida do próprio consumidor. Para o Brasil, há a chance de redirecionar as exportações para outros mercados, algo que já vem acontecendo”, observou.
Terras raras: o ponto de maior tensão
Mas é na área de minerais críticospopularmente conhecido como terras rarasque Gianetti vê o fator mais sensível para os Estados Unidos — e a maior oportunidade estratégica para o Brasil. “Esta é a questão que leva os Estados Unidos ao desespero”, declarou.
Esses minerais são essenciais para indústrias de defesa, aeroespacial, tecnologia e energia limpae a dependência global China neste sector é visto como uma vulnerabilidade crescente. Segundo Gianetti, existe um mito sobre a abundância brasileira: “O Brasil não tem reservas provadas, tem evidências. São reservas inferidas, não medidas. Precisamos investir pesado em pesquisas geológicas”, explicou o especialista. “Temos poder de barganha; não estamos mortalmente feridos”, acrescentou.
Ainda assim, o potencial é enorme. O economista destaca que só uma mina de terras raras está operando no paíso Serra Verdemas o concentrado extraído precisa ser processado em Chinajá que nem o Brasil nem os Estados Unidos dominam a tecnologia de refino.
“Precisamos investir juntos. A China não é mais inteligente, apenas investiu mais. O Brasil e os EUA podem desenvolver tecnologia de processamento e refino para competir em pé de igualdade”, disse ele.

Grátis.
Etanol no centro da disputa
Entre os temas mais sensíveis nas negociações está o etanolum produto em que o Brasil e os Estados Unidos estão protagonistas globais. Atualmente, a tarifa brasileira é 18%e o tema deverá ganhar peso na mesa diplomática.
Para Gianetti há espaço para cooperação. “Se a tarifa for reduzida, deverá ser a mesma para os dois países, na faixa de 12% a 15%, com cotas proporcionais”, sugeriu. Segundo ele, a disputa bilateral deve dar lugar a uma projeto conjunto para criar um mercado internacional de etanolretomada de plano assinado em 2007 entre os presidentes George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silvaem parceria com Petrobrás e empresas americanas.
“Isso nunca foi feito. Precisamos recuperar esse documento e colocá-lo de volta na mesa. Brasil e Estados Unidos juntos podem criar dezenas de bilhões de dólares em exportações adicionais, em vez de lutarem por fatias do mesmo mercado”, afirmou.
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Diplomacia à prova
Na opinião de Gianetti, o governo brasileiro não conseguiu agir preventivamente. “Desde abril sabíamos que a conversa estava esquentando. Quando veio a primeira lista com apenas 10% de tarifa, na verdade foi uma boa surpresa.
Apesar disso, o economista vê espaço para correção de curso. “O estrago está feito, eles erraram e nós erramos também, mas ainda dá tempo de consertar sem grandes prejuízos para os dois países”, afirmou.
Investimento, tecnologia e velocidade
Gianetti também chama a atenção para o obstáculos internos. “A reserva subterrânea, intocável, não vale nada. Qual o sentido de olhar para a montanha e dizer ‘há uma fortuna aqui’? Precisamos transformar isso em verdadeira riqueza.”
Ele defende agilidade nos processos de licenciamento ambiental e mineralcom prazos claros de até um ano. “Esperar três ou quatro anos pela licença mata qualquer investimento”, alerta.
Além disso, cita a necessidade de linhas de crédito e políticas públicas específicas para o setor mineral, que ainda hoje está em seus primórdios. “O mundo precisa destas reservas. Não podemos sentar-nos sobre elas, num berço esplêndido. É agora que precisamos de agir.”
Nova geopolítica de recursos
Para o economista, a crise tarifária poderia ter um efeito positivo ao “lançar luz sobre um tema que o Brasil vinha negligenciando”. A disputa comercial, diz ele, revela uma oportunidade para o país se reposicionar como fornecedor estratégico de minerais críticos e energia limpanum cenário global cada vez mais competitivo.
“A cabra foi colocada no quarto”, resumiu Gianetti. “Agora temos que resolver isso – não em dez ou quinze anos, mas agora.”
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