O ano de 2025 está confirmado como um dos mais desafiador — e esclarecedor — para o mercado financeiro brasileiro.
Em meio a taxas de juros ainda elevadas, incertezas fiscais e um ambiente global de realocação de carteiras, os investidores locais mantêm a preferência por previsibilidadeenquanto os estrangeiros voltam a assumir o papel de formadores marginais de preços na Bolsa.
O movimento sinaliza o início de uma reavaliação gradual do risco internodepois de um ciclo prolongado de desalocação em ativos locais.
De acordo com dados de DataBayentre janeiro e setembro, o fundos de renda fixa acumulado arrecadação líquida de R$ 137,8 bilhõesreforçando a preferência dos investidores brasileiros por títulos. Por outro lado, os multimercados registraram saídas líquidas de R$ 78,9 bilhõese o fundos de ações perderam R$ 45 bilhões no mesmo período.
Esta rotação do risco para a previsibilidade reflecte não só o ciclo de subida das taxas de juro, mas também a percepção de que o cenário fiscal permanece incerto e limita a queda da Selic em 2025.
Categoria | janeiro | fevereiro | Mar | abril | Poderia | Junho | julho | Agosto | Definir | No ano |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Ações | -11.668 | -5.373 | -6.309 | -5.759 | -3.528 | -4.711 | -4.346 | -600 | -2.689 | -44.984 |
Taxa de câmbio | -806 | 227 | -126 | 811 | 381 | -566 | -47 | -41 | 104 | -63 |
Multimercado | -23.844 | -23.559 | 570 | -21.372 | -16.807 | -2.741 | 1.035 | 9.739 | -1.898 | -78.878 |
Renda Fixa | 64.085 | 10.081 | 9.723 | -13.439 | 2.808 | 6.781 | 35.698 | -22.247 | 44.326 | 137.815 |
Fonte: DataBay
Mesmo assim, a Bolsa resistiu relativamente bem à saída de recursos internos. Parte disso é explicado pelo comportamento investidores estrangeirosque mais uma vez forneceu capital seletivamente. Até Outubro, os não residentes registaram entradas líquidas de R$ 22,4 bilhões na B3.
As instituições nacionais, pressionadas pelos resgates de seus recursos e pela necessidade de reposição de liquidez, venderam posições, acumulando saques superiores a R$ 39 bilhões. As pessoas físicas mantiveram trajetória marginalmente positiva, com contribuições líquidas de R$ 7,5 bilhõesaproveitando correções de preços específicas em empresas com perfil defensivo ou pagando dividendos.
O contraste entre o investidor estrangeiro e o investidor institucional nacional é hoje o principal vetor da Bolsa de Valores. Embora o primeiro beneficie avaliações mais atraentes e busca a diversificação geográfica em meio ao aumento do custo de oportunidade global, o segundo atua de forma reativa, condicionado pelo comportamento dos acionistas e pela dinâmica dos fluxos na própria indústria de fundos.
Esta assimetria explica o recente apoio aos preços, mas também acrescenta fragilidade: o capital estrangeiro é mais volátile parte da recuperação recente poderá ser revertida se o ambiente global se deteriorar.
Mês/2025 | Estrangeiro | Institucional | Individual | Inst. Financeiro | Outros |
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janeiro | 6.824,34 | -1.241,19 | 419,47 | 1.073,94 | -7.076,58 |
fevereiro | 699,34 | -7.599,08 | 1.134,14 | 3.979,57 | 1.786,01 |
Mar | 3.118,35 | -1.436,46 | -162,07 | -2.296,46 | 776,62 |
abril | -133,64 | -3.081,59 | 2.181,50 | -904,84 | 1.938,53 |
Poderia | 10.581,74 | -8.271,71 | 835,55 | -1.192,68 | -1.952,87 |
Junho | 5.358,77 | -8.403,28 | 1.991,41 | -320,56 | 1.373,63 |
julho | -6.371,99 | -519,53 | 1.053,14 | 5.346,42 | 492,91 |
Agosto | 1.168,29 | -1.280,39 | -1.361,07 | 1.032,20 | 440,92 |
Definir | 5.267,09 | -9.214,60 | -118,86 | -1.686,38 | 5.752,73 |
Outubro | -4.112,76 | 1.830,16 | 1.563,02 | 449,53 | 270,07 |
Fonte: dados da B3 elaborados pela DataBay
No domínio macroeconómico, o Banco Central mantém Selic em 15% ao anoreforçando a visão de que a desinflação dos serviços continua incompleta e isso Não há espaço para cortes significativos no curto prazo. O o ciclo de alta terminoumas os cortes ainda não começaram – e o O debate do mercado gira em torno do momento do primeiro movimento: 28 de janeiro, 18 de março ou 29 de abril.
O consenso mais recente aponta para marçocom a possibilidade de antecipação caso a inflação surpreenda para baixo ou o atividade mostra desaceleração mais intensa. O curva de rendimento pouca coisa mudou nas últimas semanas, refletindo a falta de novos gatilhosem consonância com o recomposição dos fluxos globais.
Agosto marcou um ponto de inflexão interessante: fundos de renda fixa registraram resgates líquidos de R$ 22,2 bilhõescoincidindo com captação positiva de R$ 9,7 bilhões em multimercados. A leitura é que, com a estabilização da curva e a queda da volatilidade global no período, alguns investidores institucionais voltaram a testar posições de investimento. risco tático — especialmente em estratégias macro com baixa correlação e gestores com bom histórico de execução.
Ainda é cedo para falar em reviravolta na tendência, mas o episódio indica disposição para retomada gradual do risco.
O cenário interno, contudo, continua a impor limites ao otimismo. A combinação de uma política fiscal expansionista, inflação de serviços resiliente e altas taxas de juros reais mantém a indústria de fundos em modo defensivo. Os fundos de pensões e os gestores institucionais dão prioridade à reposição de liquidez e ao controlo do risco de duração, enquanto os investidores de retalho permanecem seletivos, concentrando as alocações em ativos altamente previsíveis e em empresas estáveis de geração de caixa.
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O resultado é um mercado equilibrado entre forças opostas: o comprador estrangeiro, o vendedor institucional e o indivíduo que age de forma oportunista. A liquidez vem do exterior, mas a confiança interna ainda não voltou. A curva plana das taxas de juro e a taxa de câmbio volátil reflectem este impasse – sem novos choques, mas também sem factores claros para a reavaliação dos preços.
Para o investidor profissional, o cenário pede disciplina: capturar alta cargapreservar a liquidez e usar a volatilidade como oportunidade — sem antecipar um ciclo de valorização que ainda depende do recuperar a credibilidade fiscal e o restabelecimento da confiança institucional.
Guilherme Carlini Carter é economista e especialista em finanças, com carreira dedicada à análise de mercado e inovação em investimentos. Mestre pela FGV-EESP, é professor de Finanças da FGV e coordenador dos programas de Finanças da FBNF. Ele também é Diretor Geral da DataBay, fintech de inteligência de dados para o mercado de capitais, e presença constante em debates midiáticos sobre economia, renda fixa e investimentos.
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