Os dados de Censo Demográfico 2022divulgado nesta quinta-feira (9) por Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que as mulheres brasileiras, embora mais escolarizadas, continuam ganhando menos e ocupando menos empregos que os homens.
As mulheres são maioria no Brasil, representando 52% da população em geralmas, segundo a pesquisa, representam 43,6% da força de trabalho. Quando a pesquisa foi realizada, 62,9% dos homens maiores de 14 anos trabalhavam, enquanto entre as mulheres essa proporção era 44,9%.
Na percepção de Thalita RochaGerente de Gente e Comunicação na Actionline Brasilnão é que as mulheres não tenham interesse em trabalhar, mas sim que o mercado não está adaptado à sua realidade. “Quando a empresa oferece ambientes seguros, políticas de equidade e oportunidades reais de crescimento, as mulheres aparecem, se destacam e permanecem”, declara.
Rocha acrescenta que esta menor participação feminina no trabalho também está relacionada com um “viés inconsciente, presente nas decisões de recrutamento, promoção e definição salarial, que associa determinados cargos ou competências a perfis predominantemente masculinos”.
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Viagem dupla
Já Milene Dellatoreespecialista em finanças e investimentos e diretor de Tabela do Proprietário MIDEargumenta que as mulheres trabalham mais, mas parte deste trabalho não é formal nem remunerado. “A mulher cuida da casa, dos filhos, dos pais, da rotina. Ela faz turnos duplos ou triplos, mas isso não consta nas estatísticas económicas. Então parece que ela ‘não está a trabalhar’, quando, na verdade, está a apoiar todo o sistema fora do mercado formal”, argumenta.
Neste aspecto, Luciana Pena Morgadopesquisador e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), explica que o trabalho doméstico e o cuidado foram atribuídos socialmente às mulheres devido a uma divisão sexual do trabalho.
As mulheres muitas vezes têm que lidar com a estabilidade financeira e cuidar da família. Em 2022, 49,1% dos domicílios brasileiros eram chefiados por mulheres. Em 10 estados, o percentual de mulheres responsáveis pela unidade doméstica era superior a 50%: Pernambucano (53,9%), Sergipe (53,1%), Maranhão (53,0%), Amapá (52,9%), Ceará (52,6%), Rio de Janeiro (52,3%), Alagoas e Paraíba (51,7%), Bahia (51,0%) e Piauí (50,4%).
Dellatore também menciona que tal contexto é muitas vezes chamado de “opção pessoal”, quando, na verdade, é uma falha estrutural. Rocha relata uma perspectiva semelhante, ela percebe que o maternidadepor exemplo, é tratado como um obstáculo às empresas e não como um aspecto natural da vida.
“Hoje, o horário médio de funcionamento das creches públicas no Brasil é até 16h ou 17h. Mas o horário de trabalho da maioria das mulheres vai até 18h ou 19h.

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A educação não se reflete na renda
Apesar de terem mais educação, as mulheres continuam a receber menos. A renda média mensal feminina era R$ 2.506valor 19,6% menor ao dos homens, que receberam R$ 3.115. A diferença aumenta entre os trabalhadores com ensino superior completo: enquanto os homens ganhavam R$ 7.347 Em média, as mulheres receberam R$ 4.591sobre 37,5% menos.
O Censo também mostra que 28,9% das mulheres empregadas possuem diploma universitárioantes 17,3% dos homens. Nos níveis de escolaridade mais baixos predomina a presença masculina: 26,4% dos homens tinham o ensino primário incompleto, contra 16,2% das mulheres.
Para Cristina Helena de MelloProfessor de Economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), “não há justificativa moral ou econômica para pagar menos a indivíduos que desempenham a mesma função, têm o mesmo nível de escolaridade, os mesmos atributos e a mesma produtividade”. Outro fator importante, argumenta a gerente Thalita, é a sub-representação feminina em cargos de liderançao que impacta diretamente os salários médios, já que os cargos mais bem remunerados ainda são majoritariamente ocupados por homens.

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A desigualdade racial amplia a disparidade salarial
A disparidade de renda piora quando as diferenças raciais são consideradas. Os trabalhadores de cor ou raça amarela registraram o maior rendimento (R$ 5.942 em média), seguidos pelos trabalhadores brancos (R$ 3.659). Pardos, negros e indígenas tiveram ganhos menores: R$ 2.061, R$ 2.061 e R$ 1.653, respectivamente.
Entre aqueles com ensino superior, a diferença é ainda mais significativa: os amarelos receberam R$ 8.411quase o dobro do valor pago aos indígenas (R$ 3.799). Os brancos venceram R$ 6.547marrom R$ 4.559 e preto R$ 4.175.
A pesquisadora Luciana relaciona a discrepância salarial entre as raças como um resquício da cultura escravista do país e lembra que O Brasil foi o último país americano a abolir a escravatura.

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Menor participação económica e violência doméstica
A dependência financeira faz com que muitas mulheres permaneçam em relacionamentos abusivos. Segundo dados da 10ª Pesquisa Nacional de Violência Contra a Mulher, realizada pelo DataSenado em 2023, na opinião do 61% dos brasileiros, sendo ddependente financeiramente do agressor leva a mulher a não denunciar a violência na maioria das vezes.
A pesquisa mostra ainda que ao comparar a renda das mulheres que declaram já ter sofrido algum tipo de violência doméstica ou familiar causada por homem, É claro que quanto menor a renda, maior a chance de ter sido agredido em algum momento da vida. Embora 35% das mulheres que ganham até dois salários mínimos relatem casos de violência, esse nível diminui
para 28% entre as mulheres que ganham de dois a seis salários mínimos e chega a 20% entre aquelas que ganham mais de seis salários mínimos.
Considerando esses dados, a autonomia económica é uma das formas de combater a violência contra as mulheres e dar dignidade a estas vítimas. “A dependência financeira é a cadeia invisível que prende muitas mulheres em relacionamentos destrutivos”, afirma a especialista em finanças e investimentos Milene Dellatore. “Quando o Censo mostra que as mulheres ganham menos e têm menos espaço no mercado, também está mostrando porque elas têm menos liberdade para sair de lugares onde não são respeitadas. A autonomia financeira é o primeiro passo para a liberdade emocional”, finaliza.

Agência Brasil/Arquivo
Participação feminina por setor
As mulheres são maioria em apenas três dos dez principais grupos ocupacionais: profissionais da ciência e intelectuais (60,8%), trabalhadores de apoio administrativo (64,9%) e trabalhadores de serviços e comércio (58,9%). Por outro lado, a presença feminina é mínima entre operadores de máquinas (7,4%) e membros das forças armadas, policiais e bombeiros (9,3%).
Por atividade, é clara a predominância das mulheres em áreas como serviços domésticos (93,1%), saúde humana e serviços sociais (77,1%) e educação (75,3%). Setores como construção (3,6%), transporte e armazenamento (9,3%) e indústrias extrativas (14,4%) permanecem majoritariamente masculinos.
Os resultados do Censo reforçam que, embora tenham avançado na educação, as mulheres continuam enfrentando barreiras estruturais no mercado de trabalho brasileiro — marcado por desigualdade salarial, menor inserção profissional e recortes de corrida que ampliam ainda mais as disparidades.
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