A inflação oficial do país voltou a subir em setembro, impulsionada pela energia elétrica. Segundo o IBGE, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) avançado 0,48%reverter a deflação -0,11% em agosto. No acumulado do ano, o índice atinge 3,64%e em 12 meses, 5,17%acima do 5,13% do período anterior. Em setembro do ano passado, a taxa havia sido 0,44%.
O movimento ascendente já era esperado, mas veio ligeiramente abaixo das projeções do mercadoque indicou uma variação próxima 0,52%. A surpresa veio do comportamento mais brando dos núcleos e serviços —notícia que, segundo analistas, traz certo alívio à política monetária.
“Foi uma leitura benigna. As medidas básicas desaceleraram, sugerindo que as pressões do mercado de trabalho são menos intensas”, avalia André Perfeitoeconomista e estrategista-chefe. Para ele, os dados não indicam corte imediato da Selic, mas podem levar a revisões positivas nas projeções de curto prazo. “O problema continua sendo o impasse fiscal, que mantém as expectativas para 2027 estagnadas”, afirma.
Período | Avaliar (%) |
---|---|
Setembro de 2025 | 0,48 |
Agosto de 2025 | -0,11 |
Setembro de 2024 | 0,44 |
Acumulado no ano | 3,64 |
Acumulado em 12 meses | 5.17 |
Fonte: IBGE – Diretoria de Pesquisa/Coordenação de Índices de Preços
A energia pesa no seu bolso novamente
O destaque do mês foi o grupo Habitaçãoque subiu 2,97% e respondeu pela quase totalidade do IPCA de setembro. O energia elétrica residencial tomada 10,31%representando 0,41 ponto percentual do índice completo. A razão, explica o IBGE, está no fim do bônus de Itaipu concedido em agosto e nível de retorno da bandeira vermelha 2que adiciona R$ 7,87 a cada 100 kWh consumido.
Ainda havia ajustes tarifários regionaiscom aumentos significativos São Luís (+27,30%), Vitória (+12,37%) e Curitiba (+12,24%). No acumulado do ano, energia elétrica já subiu 16,42%com um impacto de 0,63 pp no IPCA de 2025. Em 12 meses, o item registra aumento de 10,64%equivalente a 0,44 pp do índice total.
Para Ricardo Trevisan GalloCEO de Gravus Capitalo impacto da energia mostra como choques específicos continuam a influenciar a inflação. “A conta de luz disparou e sozinha explicou quase toda a alta do mês. Esse tipo de choque dificulta cortes rápidos de juros e reforça a necessidade de cautela. Os investidores precisam diversificar e manter parte de sua carteira em títulos indexados à inflação”, afirma.
O grupo também refletiu aumentos em água e esgoto (+0,07%)com ajustes em Aracaju e Vitória, e em gás canalizado (+0,01%)com aumento em Curitiba e redução no Rio de Janeiro.
A alimentação alivia, mas a desigualdade regional persiste
Se a energia aumentasse, a oferta de alimentos aliviaria novamente o bolso do consumidor. O grupo Alimentos e bebidas caiu 0,26%registrando o quarto mês consecutivo de queda. Dentro dele, o comida em casa recuou 0,41%impulsionado por fortes reduções no preço dos tomate (-11,52%), cebola (-10,16%), alho (-8,70%), batata (-8,55%) e arroz (-2,14%). Em contraste, frutas (+2,40%) e óleo de soja (+3,57%) subiu.
O comer fora de casa desacelerou de 0,50% em agosto para 0,11% em setembro. Para o refeições eles caíram 0,16%e o lanches rosa 0,53%.
De acordo com o relatório do Banco Daycovalesse comportamento foi um dos fatores que deixou o IPCA abaixo do estimado. “A principal surpresa veio do grupo de serviços e alimentação no domicílio. Itens como carnes, arroz e feijão contribuíram para uma deflação significativa. O núcleo da inflação também ficou bem abaixo do esperado”, destaca a equipe de economistas do banco.
Mesmo com esse alívio, o cenário geral ainda pede cautela. “O resultado reforça um viés de baixa para a projeção de 4,8%, mas não altera nossa perspectiva de Selic de 15% até o final do ano”, afirma o Daycoval DPEc.
Grupo | Variação (%) Agosto | Variação (%) setembro | Impacto (pp) Agosto | Impacto (pp) Setembro |
---|---|---|---|---|
Índice Geral | -0,11 | 0,48 | -0,11 | 0,48 |
Alimentos e bebidas | -0,46 | -0,26 | -0,10 | -0,06 |
Habitação | -0,90 | 2,97 | -0,14 | 0,45 |
Itens de residência | -0,09 | -0,40 | 0,00 | -0,01 |
Roupas | 0,72 | 0,63 | 0,03 | 0,03 |
Transporte | -0,27 | 0,01 | -0,06 | 0,00 |
Saúde e cuidados pessoais | 0,54 | 0,17 | 0,07 | 0,02 |
Despesas pessoais | 0,40 | 0,51 | 0,04 | 0,05 |
Educação | 0,75 | 0,07 | 0,05 | 0,01 |
Comunicação | -0,09 | -0,17 | 0,00 | -0,01 |
Fonte: IBGE – Diretoria de Pesquisa/Coordenação de Índices de Preços
Transporte e combustível flutuam
O grupo Transporte apresentou variação praticamente estável (+0,01%), mas com movimentos distintos entre os itens. Você combustíveis eles subiram novamente 0,87%depois de cair -0,89% em agosto. O etanol foi dispensado de 2,25%o Gasolina rosa 0,75%o diesel avançado 0,38%e o gás veicular caiu 1,24%.
Por outro lado, passagens aéreas caiu 2,83%e o seguro de veículo recuou 5,98%. O resultado também reflete reduções específicas nas tarifas em algumas cidades: metrô e ônibus em Brasília (-10,69%) e ônibus urbano em Curitiba (-3,21%).
Para Maykon Rodrigueseconomista de Daycovalparte da melhoria nos núcleos reflete precisamente estas variações localizadas. “Assim como no IPCA-15, o núcleo de serviços apresentou desaceleração, mas isso inclui fatores temporários, como seguros e cinemas. A inflação básica ainda fica acima de 5% em 12 meses, o que mantém o Copom cauteloso”, explica.
Segundo ele, a tendência é deflação lentacom cortes de juros apenas no primeiro trimestre de 2026quando as expectativas de longo prazo começam a cair e o mercado de trabalho mostra moderação.
Vestuário e serviços recuperam
O Roupas avançado 0,63%com destaque para vestuário masculino (+1,06%) e vestuário infantil (+0,76%).
Em Despesas pessoaiso aumento foi 0,51%conduzido por pacotes turísticos (+2,87%) e o retorno de cinema, teatro e espetáculos (+2,75%)seguindo as promoções da Semana do Cinema em agosto.
Agora o grupo Saúde e cuidados pessoais rosa 0,17%com planos de saúde (+0,50%) respondendo por 0,02 pontos percentuais do índice geral.
Para Etore Sanchezeconomista-chefe da Ativar investimentoso resultado foi “estruturalmente benigno”. “O IPCA ficou em 0,48%, abaixo da mediana de 0,52%. Nossos desvios foram pequenos e os núcleos melhoraram de forma generalizada.
Ele avalia, porém, que o resultado não altera imediatamente o cenário dos juros. “As implicações para a política monetária não são automáticas, mas favorecem as teses que falam em início precoce dos cortes. Mesmo assim, não vemos espaço para isso no momento”, pondera.
Regiões e rendimentos: contrastes e pressões
O IPCA variou de 1,02% em São Luíso maior do país, o 0,17% em Salvadoro menor. No Sudeste, São Paulo (+0,57%) e Rio de Janeiro (+0,48%) estavam próximos da média nacional.
Entre as famílias de baixa renda, o INPC rosa 0,52% no mês, acumulando 3,62% no ano e 5,10% em 12 meses. Em Vitóriao índice atingiu 0,98%influenciada pela energia e pela gasolina, enquanto Salvador foi dispensado de apenas 0,16%.
Região | Peso Regional (%) | Alteração de agosto (%) | Variação de Setembro (%) | Acumulado no ano (%) | Acumulado em 12 meses (%) |
---|---|---|---|---|---|
São Luís | 1,62 | -0,27 | 1.02 | 3,65 | 5.32 |
Vitória | 1,86 | 0,23 | 0,76 | 4,35 | 5,59 |
Goiânia | 4.17 | -0,40 | 0,75 | 2,44 | 4,51 |
São Paulo | 32,28 | 0,10 | 0,57 | 4.16 | 5,83 |
Recife | 3,92 | -0,24 | 0,56 | 3,67 | 4,98 |
Campo Grande | 1,57 | -0,28 | 0,55 | 2,82 | 4,64 |
Aracaju | 1.03 | -0,26 | 0,52 | 4.02 | 5.07 |
Porto Alegre | 8,61 | -0,40 | 0,50 | 3,70 | 4.41 |
Rio de Janeiro | 9.43 | -0,34 | 0,48 | 2,84 | 4,58 |
Rio Branco | 0,51 | -0,08 | 0,46 | 2,42 | 4,48 |
Brasília | 4.06 | 0,11 | 0,41 | 3,79 | 5.09 |
Força | 3.23 | -0,07 | 0,38 | 3,48 | 5.10 |
Curitiba | 8.09 | -0,07 | 0,37 | 3,72 | 5.04 |
Belo Horizonte | 9,69 | -0,26 | 0,31 | 3,66 | 5.04 |
Belém | 3,94 | -0,15 | 0,27 | 3,47 | 5.42 |
Salvador | 5,99 | -0,08 | 0,17 | 3.12 | 4,83 |
Brasil | 100,00 | -0,11 | 0,48 | 3,64 | 5.17 |
Fonte: IBGE – Diretoria de Pesquisa/Coordenação de Índices de Preços
Choque administrado, núcleo sob controle
O IPCA de setembro expôs mais uma vez a divisão entre preços administrados e inflação subjacente. O aumento da energia elétrica — isolada e temporária — empurrou o índice para cheio, mas os núcleos e serviços desaceleraram, mostrando que a tendência de médio prazo permanece contida.
Na opinião de André Perfeito, “é uma inflação com duplo diagnóstico: os choques tarifários ainda preocupam, mas o núcleo tem estado a ajustar-se. O desafio é garantir que o alívio nos preços dos alimentos e serviços se consolide”.
Com Selic em 15% e a inflação ainda acima da meta, o Banco Central deverá manter o tom cauteloso, mas o resultado de setembro foi visto pelo mercado como um sinal de resiliência desinflacionária.
O IPCA de outubro deverá continuar pressionado pelos preços administrados, mas a tendência de queda dos preços dos alimentos e o alívio nos núcleos poderão compensar parte dos choques. Para o mercado, os dados reforçam uma mensagem: a inflação está desacelerando – mas ainda não acabou.
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