O falta de clareza por corretores e falta de conhecimento de como funciona o mercado de investidores, somado ao desejo de ganho fácil, estão na origem da crise do colapso do COE e das grandes perdas recentes registadas em casos como os de Ambipar e de Brasken e corretores, incluindo BTG e XP.
Investidores que compraram COEs – Certificados de Operações Estruturadas — vinculado às dívidas da empresa Ambipar e de Braskem sofreram perdas superiores a 90% e não dispõem de instrumentos para recuperar as suas perdas. Estes produtos, vendidos como uma combinação de renda fixa com potencial de ganho extraentrou em colapso após a desvalorização dos títulos de dívida das duas empresas no mercado internacional.
O XP Investimentos e o BTG Pactualprincipais emissores e distribuidores destes certificados, confirmaram perdas significativas. Em alguns casos, os investidores receberam menos de 7% do valor investidoisto é, um perda próxima a 93%.
Quando o “produto estruturado” entra em colapso
Você COEs ganhou espaço no mercado brasileiro com uma proposta sedutora: unir segurança de renda fixa o rentabilidade de renda variável.
O investidor, em tese, poderia participar de uma alta de ações, moedas ou índices — com alguma proteção sobre o capital investido.
De acordo com dados de B3o estoque desses produtos atingiu R$ 90 bilhões em 2024com mais de 1.000 novas emissões por dia.
A maioria está ligada a índices como Ibovespa ou S&P 500mas uma parcela crescente – quase 15% – vem de COEs de créditoo mesmo tipo que expôs os investidores a perdas com Ambipar e Braskem.
Nestas operações, o rendimento depende do comportamento dos títulos de dívida corporativa.
Se tudo correr bem, o retorno é superior ao dos investimentos convencionais.
Mas se o emitente do título enfrentar dificuldades, o investidor COE Você pode perder parte ou até 100% do valor investido.
E foi exatamente isso que aconteceu.
O risco é alto e o FGC não cobre
Para o analista Mariana Almeidade Times Brasil – Licenciado Exclusivo da CNBCo episódio expõe, além do risco de crédito desses produtos, também uma fragilidade de confiança entre emissores e investidores.
“O COE tem crescido muito, principalmente esse tipo de COE de crédito. São certificados que só podem ser emitidos pelos bancos, então há uma responsabilidade das instituições que os emitem — tanto na consolidação do papel quanto na informação ao investidor sobre o que ele está comprando”, explica Almeida.
Segundo ela, o produto já é mais arriscado porque não tem direito ao Fundo Garantidor de Crédito (FGC). “Isso significa que há, sim, uma exposição maior. E nesse contexto, a credibilidade do emissor é central nessa relação entre o investidor e o COE”, afirma.
O analista alertou ainda que o impacto pode ir além das perdas imediatas. “Este evento provavelmente irá gerar não apenas perdas concretas agora, mas também uma crise de credibilidade associados ao papel e aos emissores, como BTG e XP. É um produto exposto e, quanto maior a exposição, maior a necessidade de confiança institucional”, acrescenta.
Segundo o analista César QueirozCEO de Queiroz Investimentos e Participaçõeso fato do FGC não cobrir papéis deixa a conta por conta do aplicador. “
É um desperdício absurdo de capital investido. Para variar, o ônus acaba caindo sobre o pequeno e médio investidor que acreditou na promessa e agora paga a conta.”
Ele avalia que, com os juros atuais, existem alternativas seguras e rentáveis fora dos produtos estruturados.
“Hoje não há necessidade de buscar esse tipo de exposição. Com a taxa Selic no patamar que está é possível ter bons retornos e liquidez sem penalidade e sem risco de crédito”, explica.
Para Mariana Almeida, os investidores brasileiros, habituados à renda fixa, podem ter se sentido atraídos por uma falsa sensação de segurança. “O COE combina um pouco de renda fixa com renda variável, mas não é renda fixa. E tem consequências quando ocorre um movimento como o que estamos vendo agora”, observa.
O caso Ambipar e Braskem: perdas de até 93%
Com a crescente incerteza sobre a saúde financeira das empresas, gatilhos de vencimento antecipado foram acionados em diversas emissões de COE.
Esses gatilhos preveem que se os títulos de dívida que servem de referência (os títulos) forem negociados abaixo de um determinado valor no mercado — por exemplo, 50% do preço de emissão —, o COE é fechado automaticamente.
A partir daí, o banco emissor vende o ativo pelo preço atual e devolve o que sobrar ao investidor.
Na prática, foi um colapso.O XP Investimentosum dos maiores distribuidores desses produtos, enviou comunicados aos seus assessores informando perdas significativas para clientes.
O BTG Pactualque também estruturou e distribuiu COEs de crédito com “capital em risco” e retorno condicionalaparece em Documentos de Informação Essencial (DIE) arquivado na B3. Em uma delas, de julho de 2024, o produto previu IPCA + 9,5% ao anodesde que não houvesse “eventos de ativos subjacentes” —cláusula semelhante à que foi acionada nas operações de XP.
Até o momento, o banco não comentou perdas ou liquidação antecipada desses papéis.
Nós COEs da Ambiparos resgates foram apenas 6,88% do valor investido — uma perda próxima de 93%.
Nós COEs da Braskemreembolsos variaram entre 26,2% e 36,97%com perdas entre 63% e 74%.
Para o analista César QueirozCEO de Queiroz Investimentos e Participaçõeso episódio mostra que muitos investidores foram pegos de surpresa pela falta de informações claras sobre os riscos.
“Infelizmente, o COE tem sido vendido e negociado de uma forma que não fornece aos investidores informações corretas sobre os riscos inerentes. Todo ativo do mercado financeiro que gera um vínculo de longo prazo possui variáveis de risco inerentes, e isso nem sempre é explicado”, afirmou.Segundo ele, a comunicação deficiente fez com que muitos aplicadores acreditassem na promessas de ganhos desproporcionaissem entender as condições.
“O ônus acabou ficando, como sempre, para o pequeno e médio investidor, que acreditou no discurso, deixou o dinheiro amarrado numa operação combinada e agora paga a conta”, diz Queiroz.
A corretora informou que a liquidação antecipada é decisão finalconforme previsto no contrato.
Em fóruns e sites de reclamações, os investidores relatam perdas que vão desde R$ 22 mil a R$ 270 mil em produtos vendidos como “capital em risco”.A diferença entre ação e COE
Embora ambos possam ser afetados pelo desempenho de uma empresa, as ações e o COE têm naturezas diferentes.
Quem compra Ação adquirir parte da capital da empresa e sofre diretamente as oscilações do mercado de ações.
Qualquer um que comprar um COE adquirir um certificado emitido por um banco – como XP ou BTG — cujo rendimento depende de condições contratuais, normalmente ligadas a derivativos ou títulos de terceiros.
No caso dos COE de crédito, o risco não é da empresa emissora do COE, mas sim do emissor do título de dívida referenciado.
Se o título perder valor, o COE perde junto com ele.
Além disso, estes produtos têm liquidez muito baixa — o investidor geralmente não consegue resgatar antes do prazo sem sofrer desconto.
A promessa de “capital protegido” também é frequentemente mal compreendida ou mal explicada pelos consultores de investimento.
Muitos COEs devolvem o valor nominal investido, mas sem correção para a inflação e sem proteção contra eventos de créditocomo um pedido de recuperação judicial.
Na prática, o investidor pode sair com o mesmo valor nominal, mas perdendo poder de compra ou, em casos como Ambipar, com perda direta.
Como funciona o COE
O Certificado de Operações Estruturadas é um produto híbrido que combina ingredientes ativos renda fixa e renda variável.
É criado por um banco emissor – como BTG Pactual ou o XP —, vendidos por corretores e registrados em B3.
A estrutura pode incluir títulos governamentais, ações, moedas, índices e derivativos.
Existem COE simples, que pagam de acordo com a variação de um índice, e complexos, que envolvem cálculos de alavancagem, barreiras de proteção e gatilhos de vencimento.
Por exemplo: um COE de crédito da Ambipar, lançada em fevereiro de 2024, ofereceu CDI + 4,9% ao anodesde que nenhum evento de crédito ocorreu.
No da Braskem, distribuído em julho de 2024, a promessa era IPCA + 9,5% ao anocom a mesma condição.
Ambos tinham em letras minúsculas: “capital em risco”.
Quando as empresas entraram em crise e os seus títulos caíram abaixo dos limites esperados, estes COEs foram automaticamente liquidadosrevertendo o ganho esperado em perdas severas.
Por que o COE é recomendado — e por que o alerta cresceu
Analistas e consultores recomendam frequentemente o COE porque permite acesso a estratégias sofisticadas com pequenos valores de entrada.
É uma forma de “empacotar” derivados e activos complexos num único produto, vendido como diversificação.
Mas o problema está em falsa sensação de segurança que muitos investidores têm.
Os documentos oficiais, chamados DIE (Documento de Informação Essencial)explicam os riscos, mas a linguagem técnica e o volume de detalhes dificultam a leitura.
Na prática, muitos aplicadores acreditam estar adquirindo uma renda fixa com bônus de rentabilidadequando na verdade eles estão comprando uma aposta condicional sobre o desempenho de terceiros.
Outro ponto sensível é o falta de liquidez: o dinheiro fica trancado até o vencimento — que pode ultrapassar cinco anos — e o investidor não tem a quem recorrer em caso de prejuízo, pois as condições estão descritas no contrato e são aceitas no momento da compra.
XP e BTG e seu impacto no mercado
A repercussão dos casos Ambipar e Braskem forçou o mercado a rever o seu apetite por COEs de crédito.
O XPa maior distribuidora, enviou cartas aos assessores reforçando a necessidade de alertar os clientes sobre os riscos.
O BTG Pactualque também estruturou e distribuiu COEs de crédito lastreados em títulos da Ambipar e da Braskem, aparece como emissor em documentos registrados na B3. Até o momento, porém, o banco não comentou publicamente sobre possíveis liquidações antecipadas destes produtos.
Ambos destacaram que as emissões cumprem as normas da UE. CVM e de B3.
Apesar da repercussão negativa, o mercado de COEs continua em expansão.
O número de investidores ativos ultrapassa 600 mil pessoase o produto continua sendo uma alternativa para quem busca rentabilidade acima do CDI —mesmo com risco elevado.
A lição deixada pelas perdas
O caso Ambipar e Braskem mostra que Os produtos estruturados nem sempre são adequados para investidores comuns.
A combinação de complexidade, baixa liquidez e exposição a eventos de crédito pode transformar uma aplicação aparentemente segura em um prejuízo milionário.
Os especialistas recomendam que, antes de investir, o investidor leia atentamente o MORRERpergunte ao consultor qual é o ativo referenciado e em que condições você pode perder dinheiro.
Mais do que promessas de rendimentos, o essencial é compreender o risco – incluindo o de não recuperar o capital investido.
Como nos lembram os analistas de mercado, “o COE não é o vilão – o problema é sem saber o que há dentro dele”.
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