A indústria automotiva enfrenta uma nova crise global de semicondutoressemelhante ao vivido no auge da pandemia de covid-19. O escassez de chipsque já ameaça paralisar fábricas na Europa e preocupa o setor no Brasil, é resultado de um conflito geopolítico entre a China, os Estados Unidos e a Holanda envolvendo o fabricante Nexperiaum dos maiores fornecedores mundiais de componentes eletrônicos.
No mês passado, o Governo holandês assumiu o controle da Nexperia — até então subsidiária da Tecnologia Chinesa Wingtech – sob o argumento de preservar “capacidades tecnológicas estratégicas” para a segurança económica da Europa. Em retaliação, Pequim proibiu a exportação de certos produtos da empresa fabricada na China, interrompendo fluxos logísticos e paralisando parte da produção.
Os chips Nexperia estão na moda praticamente todos os sistemas eletrônicos em um carro modernodo controle do freio aos centros da bateria. Sem eles, montadoras não conseguem manter linhas de produção. Um veículo médio, por exemplo, utiliza de mil a três mil fichas – e o risco de escassez aumenta a cada semana.
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Na Holanda, o Volkswagen foi um dos primeiros a admitir preocupação. A montadora alertou nesta quarta-feira sobre possíveis paradas temporárias na produçãocitando o Restrições chinesas às exportações de semicondutores da Nexperia.
Um porta-voz da empresa disse que embora a Nexperia não seja um fornecedor direto, alguns de seus chips estão presentes em componentes fabricados por fornecedores da Volkswagen.
“Estamos em contacto próximo com todas as partes interessadas relevantes para identificar riscos potenciais numa fase inicial e poder tomar decisões sobre quaisquer medidas necessárias”, disse o porta-voz.
Por enquanto, a produção da empresa não foi afetadomas o executivo reconheceu que, Dada a evolução do cenário, não se podem descartar efeitos de curto prazo.
Alexandre Debiève/Unsplash
Crise se repete com diferentes causas
O Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) alertou o governo federal sobre o risco de paralisação da produção nacional e pergunte ações de emergência para evitar um colapso semelhante ao de 2020 e 2021, quando a pandemia perturbou as cadeias de abastecimento globais.
“Com 1,3 milhão de empregos em jogo em toda a cadeia automotiva, é fundamental encontrar uma solução em um momento já desafiador, marcado por altas taxas de juros e desaceleração da demanda”, afirmou o presidente da Anfavea, Igor Calvet.
Na crise pandémica, o problema foi logística e saúde: As fábricas asiáticas fecharam e o transporte entrou em colapso. Agora o epicentro é político.
Segundo David Wangparceiro de Álvarez e Marsala cadeia estava mais preparada para desastres naturais e eventos de saúde, mas não às tensões geopolíticas.
“Quando a Covid começou, a Toyota foi quem mais sofreu e aprendeu a construir cadeias mais resilientes. Mas as situações políticas não estavam no radar.
Wong ressalta que, como muitos chips automotivos são específico para sistemas de segurança, freio ou bateria, não é possível substituí-los rapidamente: “A validação de um novo fornecedor pode levar de seis meses a um ano.”
A Europa reage, mas a China pode emergir mais forte
Enquanto as montadoras europeias tentam conter os danos, Os fabricantes chineses tendem a ser menos afetados. Isto porque, segundo Wong, o China tem um nível de verticalização produtiva muito maiorcom a maioria dos componentes fabricados “em casa” ou dentro do próprio país.
“As montadoras chinesas não deverão sofrer grandes impactos. Mesmo que parte da cadeia dependa de importações, a capacidade de produção nacional é suficiente para amortecer o choque”, afirma o especialista.
Esta vantagem reforça a A posição estratégica da China no setor automotivo globalespecialmente na produção de veículos elétricos e híbridos — que use até dez vezes mais chips do que os modelos de combustão.
As montadoras europeias confirmaram os impactos. O Mercedes-Benz afirmou ter garantido um fornecimento temporário de chipsmas avisou que “toda a indústria está sendo afetada”. BMW e o Volkswagen disseram que monitoram os riscos de curto prazo, enquanto o Renault montar uma equipe de crise para procurar fornecedores alternativos.
No Brasil, as montadoras acompanham o desenrolar da disputa e estão preocupadas com o risco de interrupção no fluxo de importaçõesdado que a cadeia global é altamente interdependente.
“O impacto da falta de semicondutores vai além do setor automotivo. Afeta uma série de segmentos industriais que dependem desses componentes”, reforçou a Anfavea em nota.
Vários chips na imagem
Laura Ockel/Unsplash
Chips, poder e dependência
Para o economista e doutor em relações internacionais Igor Lucenaa crise atual revela a vulnerabilidade dos países que não desenvolveram as suas próprias tecnologias e coloca o Brasil em uma posição delicada.
“Grande parte dos semicondutores vem da China, dos Estados Unidos e da Europa. Uma interrupção nesse comércio afeta diretamente o Brasil. O país pode tentar acordos diretos com governos ou empresas para manter o fluxo de componentes, mas isso é complexo”, avalia.
Lucena argumenta que o Brasil procurar rotas alternativas (bypass) no comércio global — importando diretamente da China, da Europa ou dos EUA, sem depender de intermediários — e atrair investimentos na produção local de fichas.
“O Brasil pode ser uma vítima colateral do conflito. Esta crise mostra as consequências de não ter desenvolvido tecnologias estratégicas no longo prazo”, afirma.
Para Adriana MeloDiretor Financeiro de SAS Brasilo risco vai além das montadoras. “Com esse número de chips por veículo, qualquer ruptura na cadeia paralisa a fabricação de sensores, módulos de potência, plantas eletrônicas, controles de emissões. Isso expõe a vulnerabilidade da cadeia e a falta de autonomia tecnológica do país”, afirmou.
O executivo destacou que O Brasil paga caro por essa dependêncialembrando que durante a última crise dos semicondutores os preços dos automóveis subiram bem acima da inflação. Segundo ela, alguns fabricantes perceberam que margens mais altas vinham com escassezque distorceu a dinâmica da oferta e da procura e aumento dos custos de logística e seguros.
Um problema que tende a se repetir
Enquanto a indústria corre para evitar novos gargalos, especialistas apontam que a eletrificação de veículos e o transformação digital aumentar a dependência de chips. Uso de híbridos e elétricos até dez vezes mais semicondutores do que carros a combustão.
“A Nexperia cresceu muito com a eletrificação, porque esses veículos precisam de muito mais chips. A conjunção da tensão política e dos avanços tecnológicos criou o cenário perfeito para uma nova crise”, resume Wong.
Para a Anfavea, a mobilização precisa ser imediato. O sector teme que a escassez global, combinada com elevado custo do crédito e procura enfraquecidaterminar desacelerando a retomada da produção automotiva no brasil.
“A urgência é evidente e é necessária mobilização para evitar um colapso da indústria”, reforçou Calvet.
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