Após meses de discussão e mais de cem emendas apresentadas, o Congresso Nacional aprovou nesta quinta-feira (30) a Medida Provisória nº 1.304/2025, que atualiza o marco regulatório do setor elétrico Brasileiro. A proposta passou pela comissão mista, depois pela Câmara dos Deputados e, poucas horas depois, pelo Senado Federal, em votação simbólica nas duas Casas. O texto agora vai para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem até o dia 15 de novembro para sancionar ou vetar a medida total ou parcialmente.
O deputado representa o revisão mais ampla das regras do setor em mais de uma década, com impactos diretos na geração, comercialização, armazenamento e consumo de energia. O relator, senador Eduardo Braga (MDB-AM), afirmou que o objetivo é modernizar o sistema elétrico, garantir tarifas razoáveis (preços justos) e aumentar a segurança energética.
Para grandes geradores e comercializadores de energia renovável, como a SPIC Brasil, o novo marco representa um “avanço relevante”.
A empresa avalia que a MP ajuda a limitar o uso de térmicas a gás e reforça a previsibilidade regulatória para projetos de geração renovável, ao criar regras claras sobre despacho, perdas e compensação. Por outro lado, a empresa alerta que novas obrigações, especialmente relacionadas com o curtailment (corte de geração), poderão aumentar os custos operacionais. Segundo a SPIC, o texto busca equilibrar segurança energética, controle de custos e incentivos para uma matriz limpamas ainda coloca desafios de execução para o setor.
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Armazenamento de energia
Um dos pontos mais importantes incluídos na MP 1.304 é a criação, pela primeira vez, de um marco regulatório para o armazenamento de energia elétrica —uma lacuna histórica na legislação brasileira.
Aneel passa a ter competência explícita para regular e fiscalizar sistemas de segurança bateriasdefinir regras de remuneração e acesso tanto no Sistema Interligado Nacional (SIN) como nos sistemas isolados.
O texto também inclui sistemas de armazenamento no Regime Especial de Incentivos ao Desenvolvimento de Infraestrutura (REIDI), com isenção de PIS/Cofins, IPI e redução de imposto de importação.
A medida busca atrair capital estrangeiro e incentivar novas tecnologias, como baterias BESS (Sistemas de Armazenamento de Energia em Baterias), essenciais para otimizar custos e reduzir o acionamento de usinas térmicas em horários de pico.
Expansão do mercado livre de energia
Outra mudança estrutural é a expansão do Ambiente de Contratação Livre (ACL). A proposta permitirá que pequenas e médias empresas entrem gradativamente no mercado competitivo no prazo de três anos, e os consumidores residenciais também poderão escolher seus fornecedores de energia.
A implementação será feita em etapas: dois anos após a entrada em vigor da lei para o comércio e a indústria, e três anos para os consumidores residenciais. Antes disso, o governo deverá implementar campanhas de conscientização sobre o funcionamento do ACL e regulamentar o Fornecedor de Último Recurso (SUI) — mecanismo que garante o abastecimento em situações emergenciais, como falência ou inadimplência de fornecedores.
O SUI será regulamentado pela Aneel, que fixará tarifas específicas com base nos princípios da razoabilidade e da previsibilidade econômica. O objetivo é evitar riscos de escassez durante a transição para um mercado mais competitivo.
Controle de subsídios e impacto tarifário
Um dos principais focos do governo na edição da MP foi o controle do orçamento da cidade. Conta de Desenvolvimento Energético (CDE)um fundo setorial que financia políticas públicas como Luz para todos e o Tarifa Social de Energia Elétrica.
Segundo Braga, o orçamento da CDE para 2025 é de R$ 49,2 bilhões, um aumento de 32,45% em relação a 2024. Como a CDE é financiada por cotas pagas pelos consumidores, esse crescimento pressiona as tarifas. A MP estabelece um limite nominal para os valores arrecadados via cotas, equivalente ao orçamento de 2026, corrigido apenas pela inflação a partir de 2027.
O texto determina ainda que 100% da receita das concessões hidrelétricas será destinada à CDE pelos próximos sete anos, o que deve representar um aporte de mais de R$ 15 bilhões. O valor busca compensar parte dos subsídios e conter o aumento das tarifas de energia.
Novas regras para autoprodução e inspeção
A MP redefine o conceito de autoprodução de energiarestringindo o benefícios a consumidores com demanda agregada mínima de 30 MW e unidades individuais de pelo menos 3 MW. A mudança visa coibir estruturas artificiais criadas para obtenção indevida de incentivos fiscais.
Braga afirmou que o novo modelo “mantém o equilíbrio entre o incentivo à autoprodução e o combate às distorções”, preservando os contratos já assinados. A Aneel ganha ainda mais autonomia, podendo criar unidades regionais e ampliar suas responsabilidades na regulação de vendas e armazenagem. As multas administrativas aplicadas pela agência vão de 4% a 3% da receita anual ou do valor da energia gerada.
Regras para geração e PCHs
No campo da geração, o Texto permite que termelétricas a carvão solicitem descomissionamento antecipado, gratuitamentedesde que notifiquem a Aneel com seis meses de antecedência — um passo importante para a substituição gradual por fontes de menor impacto ambiental.
O relatório de Eduardo Braga também incorporou sugestões sobre a utilização de índices de correção em contratos e investimentos de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Os trabalhos serão atualizados por INCC (Índice Nacional de Custo da Construção) e contratos de IPCAgarantindo o equilíbrio financeiro a longo prazo.
Também foi mantida a autorização para contratação de até 4,9 mil MW em PCHs de até 50 MW, via leilões de reserva de capacidade, com o objetivo de reforçar a segurança do sistema.
Geração distribuída e energia solar
Na Câmara, os deputados retiraram trecho que previa a cobrança de R$ 20 a cada 100 kWh gerado por novos projetos geração distribuída — modalidade que abrange sistemas solares em telhados, fachadas e pequenos terrenos. A exclusão da tarifa mantém o incentivo à microgeração e reforça a democratização da energia solar residencial.
Outra mudança aprovada garante reembolso de redução — interrupção temporária da geração — para usinas eólicas e solares. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) aplica o corte quando há excesso de oferta ou restrição na transmissão.
O reembolso, defendido pelos parlamentares, foi criticado por Braga, que classificou a medida como um “fardo desnecessário ao sistema”. Segundo ele, “os investidores que enfrentaram o corte assumiram esse risco de forma consciente”.
A Petrobras e os royalties do petróleo
Entre os pontos mais polêmicos, a MP altera o cálculo do royalties do petróleoque considerará a média das cotações de “agências de informação de preços reconhecidas internacionalmente”. Caso não haja referência disponível, será utilizada a metodologia prevista em lei ou decreto.
Atualmente, o preço de referência é calculado pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), com base nas médias mensais do petróleo e derivados. O novo método pode aumentar a receita imediata, mas também aumentar o custo de produção em novos projetos.
O governo tentou retirar esse trecho, sem sucesso, e deveria vetá-lo. “Há uma proposta governamental de vetar a matéria, o que é justo e importante para a Petrobras e para o Brasil”, afirmou o senador Izalci Lucas (PL-DF).
Competitividade e isenção
A inclusão de armazenar no REIDI e isenção tributária (PIS/Cofins, IPI e imposto de importação) reduzir custos e aumentar a atratividade dos investimentos em tecnologias de baterias. O texto também retira da CDE subsídios que aumentavam a tarifa, como os destinados a cooperativas rurais e unidades de irrigação, o que reforça o compromisso com tarifas razoáveis e com o equilíbrio econômico do setor.
Avaliação política e técnica
Após a aprovação, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), elogiou a condução do processo. “É preciso reconhecer a capacidade de articulação e o conhecimento técnico de Braga e da comissão mista, que enfrentou um dos assuntos mais complexos do país”, afirmou.
Fernando Coelho Filho (União-PE), presidente da comissão mista e ex-ministro de Minas e Energia, também destacou o caráter estratégico da MP. “Foi um debate intenso, que conciliou os interesses do governo, dos consumidores e dos geradores, resultando em um quadro equilibrado e moderno”, disse.
Próximas etapas
Com o texto aprovado pelo Congresso, o presidente Lula tem até 15 de novembro para sancionar ou vetar MP 1.304. A expectativa é que a Aneel publique regulamentação complementar até o primeiro semestre de 2026, detalhando as novas regras sobre armazenamento, mercado livre e autoprodução.
Para Eduardo Braga, a medida “inaugura um novo ciclo de previsibilidade, inovação e segurança energética no Brasil”, criando um ambiente mais competitivo e favorável ao investimento privado, ao mesmo tempo que procura conter custos e promover uma transição mais limpa e eficiente na matriz elétrica nacional.
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