O presidente do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), Daniel Limaafirmou que os pagamentos aos credores do Banco Master começarão entre 30 e 60 diasdependendo da velocidade de consolidação dos dados realizada pelo liquidante indicado pelo Banco Central.
Ele participou do programa Tempo Real, do Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBCe ofereceu a leitura mais completa já feita pelo FGC sobre a liquidação, a saúde do sistema e as reformas em debate.
Segundo Lima, o FGC está preparado para suportar o impacto. “O FGC está muito bem capitalizado. Temos ativos de quase R$ 160 bilhões e liquidez imediata de R$ 122 bilhões.” Embora o caso Master tenha consumido cerca de um terço da reserva de liquidez, ele enfatizou repetidamente que “não há preocupação com risco sistêmico” e classificou o episódio como isolado.
“Todos receberão o reembolso sem problemas, pelo aplicativo FGC”, afirmou.
Como funciona o processo de pagamento ao credor
A explicação do presidente mostra que o prazo de 30 a 60 dias não é arbitrário. Surge do funcionamento jurídico da liquidação bancária. Assim que o Banco Central decretar a liquidação, um síndico é nomeado e assume todas as operações da instituição.
“O síndico chega na instituição, entende o banco de dados, cruza as informações com os escrituradores, apura eventual imposto de renda, IOF, e compila todas essas informações”, explicou. Esta etapa leva a maior parte do tempo: entre 30 e 40 dias.
Somente após completar esta fase o FGC pode agir. “Quando o FGC recebe a lista de credores, começamos a pagar em até dois dias úteis.”
Portanto, o presidente descreve três cenários:
• Cenário base: pagamentos a partir de 30 dias
• Cenário comum: algo próximo de 40 dias
• Cenário ruim: até 60 diasem caso de pequenas inconsistências
Mesmo no pior cenário, Lima afirmou: “É um prazo razoável, considerando o tamanho da operação”.
Credores, cobertura e tamanho da proteção do FGC
Um dos discursos mais enfáticos do presidente foi sobre o Capacidade financeira do FGC. Ele rebateu questionamentos sobre a disparidade entre a liquidez de cerca de R$ 120 bilhões e os R$ 2,6 trilhões em valores garantidos.
“Nestes 30 anos, o FGC já efetuou pagamentos a 40 conglomerados financeiros e nunca esteve perto de se esgotar.” Ele acrescentou: “Quando removemos bancos altamente sólidos da conta, o montante coberto cai significativamente”.
O FGC usa modelagem própria para calibrar o risco e determina o tamanho da reserva com base em cenários extremos, segundo Lima. “A história mostra que isso funcionou.”
Para os credores que estão dentro do limite garantido, reforçou: “Está tudo coberto. Não há motivo para pânico”.
Abuso no marketing: FGC acusa uso indevido do mecanismo de proteção
Daniel Lima foi categórico: há instituições que transformaram a garantia do FGC em estratégia de marketing —algo completamente fora do propósito do mecanismo.
“Há abuso na forma como esses produtos são comercializados. O FGC foi criado para dar segurança ao sistema em crises, não como instrumento de marketing”.
Ele destacou que a responsabilidade é compartilhada:
• distribuidores que promovem produtos com retornos exagerados
• emitentes que utilizam a garantia para apoiar remunerações artificiais
• investidores finais que, segundo ele, também precisam de conscientização sobre o uso do mecanismo
A crítica é especialmente relevante no contexto da Master, que oferecia títulos bem acima dos preços de mercado.
Por que o FGC não consegue impedir bancos frágeis
Outro ponto relevante é a natureza obrigatório participação no FGC. Lima explicou que o fundo não posso recusar nenhuma instituiçãomesmo que considere os seus alicerces frágeis.
“Se você tem banco, tem que ser associado do FGC. A adesão é obrigatória, é uma exigência legal.”
A razão é simples: evite os chamados viés de seleção adversa. “Se a adesão fosse voluntária, apenas os bancos mais frágeis entrariam no mecanismo, aumentando o risco e não diminuindo-o.”
Ele afirmou que experiências internacionais anteriores comprovaram esse problema — por isso o Brasil tornou a participação obrigatória.
Proposta de aumento da garantia para R$ 1 milhão é rejeitada
Sobre a proposta que circula no Congresso para aumentar o limite de cobertura de R$ 250 mil para R$ 1 milhão, o presidente foi contundente:
“Não há base técnica para aumentar o limite.”
Ele explicou que:
• “R$ 250 mil cobrem mais de 99% do saldo da população.”
• “Internacionalmente, nosso limite já é generoso: cinco vezes a renda per capita.”
• “Se a cobertura aumentar, teremos de aumentar a contribuição dos bancos – todos pagarão mais para beneficiar uma minoria.”
Sua conclusão foi direta:
“É um absurdo discutir o aumento do limite neste momento.”
Pagar apenas o principal no futuro? O debate tem mérito, mas precisa de segurança
Quanto às propostas para que o FGC cubra apenas o principal — e não os juros — em liquidações futuras, Lima reconheceu o potencial técnico:
“Essa discussão tem muito mérito.”
Mas alertou para um risco real: “A engenharia financeira pode burlar as regras. Poderia haver pagamento antecipado de juros e no final não resolveu nada”.
Portanto, para que o FGC entrasse nessa discussão, seria necessária a criação de regras “que não possam ser ignoradas”.
Momento do Banco Central: Será que a liquidação anterior teria mudado alguma coisa?
As críticas também recaíram sobre o tempo de reação do Banco Central. Os problemas ficaram evidentes na Master em abril, mas a liquidação só ocorreu meses depois.
Lima descartou que a intervenção precoce teria reduzido os impactos sobre o FGC. “Mesmo que tivesse sido feito em maio, o impacto não seria tão diferente. A Master já havia parado de captar recursos primários.”
Segundo ele, o BC teve acesso a informações que o FGC não tinha. “O processo de revisão deles demorou tanto.”
Relacionamento com grandes bancos: o que incomoda e o que não incomoda
Daniel Lima afirmou que os grandes bancos não são avessos a instituições mais pequenas, mas sim a comportamentos que distorcem o mercado.
“Existem bancos pequenos e médios altamente respeitáveis. As críticas que ouço dizem respeito a abusos privados, não ao tamanho das instituições.”
O caso Master, segundo ele, se enquadra no grupo dos abusos —e não no grupo dos pequenos bancos por definição.
Reposição de liquidez: sem pressa, mas com ajustes
Após concluir os pagamentos aos credores, o FGC passará para a fase de “lições aprendidas”.
É aqui que será definido o plano de recuperação de liquidez utilizado no caso Master.
As alternativas incluem:
• antecipação de contribuições de bancos
• aumento temporário nas taxas de imposto
• ajustes regulatórios no mercado
Mas ele deixou claro que não há pressa. “Estamos muito bem capitalizados pelo risco que vemos.”
Um plano detalhado será definido nos próximos meses.
Mensagem final aos credores
Lima encerrou a entrevista com uma combinação de firmeza e transparência:
“Os credores receberão. O sistema é sólido. As reservas são suficientes. Agora é hora de aplicar as lições e fortalecer o mercado.”
Leia também:
Banco Master: PF apreende jato e revela circuito de luxo de Daniel Vorcaro
Banco Master: veja quantos funcionários e clientes foram afetados pela liquidação
Banco Master: Justiça mantém prisão de Daniel Vorcaro
Banco Master: Polícia Federal investiga possíveis pagamentos de comissões de crédito consignado
Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Céu | Canal 592 ao vivo | Canal 187 Olá | Operadores regionais
TV SINAL ABERTO: antena parabólica canal 562
ONLINE: www.timesbrasil.com.br | YouTube
Canais RÁPIDOS: Samsung TV Plus, canais LG, canais TCL, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos fluxos