Economia da China cresce 4,8% no trimestre, mas investimento recua pela primeira vez desde a pandemia – Times Brasil

A economia da China cresceu 4,8% no terceiro trimestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano anterior, em linha com as projeções dos analistas. Contudo, os dados mostraram desaceleração em relação ao crescimento de 5,2% registrado entre abril e junho.

O principal ponto de atenção foi a queda no investimento em ativo imobilizado, que caiu 0,5% nos primeiros nove meses do ano —resultado classificado pelos analistas como “raro e alarmante”.

Segundo a Pinpoint Asset Management, a última vez que a China registou uma contração deste tipo foi em 2020, no auge da pandemia. “Este declínio é preocupante e indica que o PIB no quarto trimestre poderá enfrentar pressão adicional”, disse o economista Zhiwei Zhang.

A retração reflete o contínuo enfraquecimento do setor imobiliário, que voltou a cair 13,9% até setembro, após queda de 12,9% nos primeiros oito meses do ano. O analista Bruce Pang, da CUHK Business School, avaliou que a fragilidade do setor pode durar mais do que o esperado e representar uma mudança estrutural: “É possível que o investimento imobiliário nunca volte aos níveis anteriores. A China precisa encontrar novas fontes de investimento para preencher esta lacuna”.

Excluindo o mercado imobiliário, o investimento total cresceu 3% entre janeiro e setembro, mas também desacelerou de 4,2% até agosto. O investimento privado fora do setor imobiliário aumentou 2,1%, um ritmo mais fraco que os 3% do mês anterior.

Para o economista Eswar Prasad, da Universidade Cornell, o cenário evidencia uma queda na confiança empresarial. “A fragilidade do investimento, especialmente do investimento privado, mostra uma falta de confiança nas perspectivas de crescimento da economia e nas políticas do governo para sustentá-la”, afirmou.

A produção industrial, por outro lado, aumentou 6,5% em setembro, superando as expectativas de 5% e acelerando frente aos 5,2% do mês anterior. As vendas no varejo cresceram 3%, em linha com as projeções, mas abaixo do ritmo de agosto (3,4%). Um dos sinais de desaceleração do consumo veio das vendas de eletrodomésticos, que subiram apenas 3,3% no mês, contra salto de 25,3% no acumulado do ano — reflexo da perda de fôlego do programa governamental de subsídio ao consumo.

O mercado de trabalho apresentou ligeira melhora, com a taxa de desemprego urbano caindo para 5,2%, ante 5,3% em agosto. O rendimento disponível ajustado pela inflação aumentou 4,5% nas cidades e 6% nas zonas rurais.

No plano macroeconómico, a inflação global caiu 0,3% em Setembro, contrariando as previsões e reforçando a pressão deflacionista, enquanto o índice subjacente de preços no consumidor – que exclui produtos alimentares e energéticos – registou o maior avanço desde Fevereiro de 2024.

Apesar dos sinais contraditórios, Pequim manteve as principais taxas de empréstimo inalteradas pelo sexto mês consecutivo: 3% para crédito de um ano e 3,5% para crédito de cinco anos.

Esta semana, os principais líderes chineses reúnem-se em Pequim para discutir objectivos económicos e prioridades para o novo plano quinquenal. O foco do governo é aumentar o consumo interno e fortalecer a produção tecnológica nacional, em meio à pressão das restrições impostas pelos Estados Unidos.

Segundo Ting Lu, economista-chefe da Nomura para a China, o país ainda depende fortemente do sector imobiliário, que representa cerca de 18% das receitas do governo local e metade da riqueza das famílias. “O governo precisará resolver o desequilíbrio do setor entre 2026 e 2030”, afirmou. Alertou também que o excesso de investimento em sectores emergentes, como os veículos eléctricos, está a começar a tornar-se contraproducente.

Mesmo com a resiliência das exportações em meio à disputa comercial com Washington, os números do trimestre mostram que a China enfrenta um duplo desafio: equilibrar a reestruturação de sua economia ao mesmo tempo em que tenta manter o crescimento acima de 4,5% — patamar considerado mínimo para sustentar o mercado de trabalho e o consumo interno.

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