Brasil pode usar terras raras como estratégia em negociação com os EUA

As conversas entre representantes dos governos brasileiro e norte-americano marcaram a retomada do diálogo diplomático após as sanções impostas pelos Estados Unidos em julho. Segundo João Alfredo Nyegray, professor de Geopolítica da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), a nova fase de negociações avança gradativamente e abre espaço para acordos econômicos que podem incluir o uso estratégico de terras raras brasileiras.

Segundo o especialista, o encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, representou um passo político relevante para o restabelecimento do canal de diálogo. Nyegray avaliou que a mudança de tom — do confronto para a cooperação — cria um ambiente favorável para uma agenda técnica e comercial.

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“O tom mudou. Essa transição para um processo de negociação agora nos permite planejar os próximos passos”, disse Nyegray ao Times Brasil – Licenciado Exclusivo CNBC.

Entre os temas em discussão, o professor destacou a possibilidade de o Brasil negociar alívio tarifário em troca de avanços em áreas de interesse norte-americano, como o acesso ao mercado de etanol e minerais críticos.

“O Brasil possui cerca de um quarto das terras raras do planeta, mas não extrai esse material. Apenas extrai e envia para o exterior, o que representa um desperdício de potencial econômico”, analisou.

As terras raras são insumos essenciais para a indústria tecnológica e para a transição energética —setores estratégicos para os Estados Unidos, que buscam reduzir a dependência da China. Nyegray avalia que o Brasil pode utilizar esse ativo como instrumento de negociação para obter vantagens comerciais e diplomáticas.

O especialista explicou ainda que o Brasil pode associar esse tema à política externa regional, oferecendo mediação entre Washington e Caracas em troca do apoio norte-americano em fóruns multilaterais. “O país pode usar sua posição para negociar o apoio comercial dos Estados Unidos em troca de cobertura diplomática sobre a Venezuela”, afirmou.

Apesar dos avanços diplomáticos, Nyegray considerou que o cenário político ainda influencia as negociações. Segundo ele, declarações improvisadas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva podem gerar ruídos nas conversas. “Essas declarações tendem a prejudicar a imagem do Brasil e afetar uma relação que está em reconstrução”, afirmou.

O professor observou que a relação económica continua marcada por um défice comercial. O Brasil compra mais dos Estados Unidos do que exporta para o país, e as tarifas impostas ainda não impactaram significativamente a economia americana. “Ainda não superámos totalmente as querelas políticas, mas há uma aproximação em curso”, concluiu Nyegray.

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