No discurso de abertura da Cimeira do Clima das Nações Unidas (COP30), o secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (órgão da ONU que organiza a cimeira), Simon Stiell, destacou a necessidade de cooperação entre os países para começar a implementar medidas já acordadas em cimeiras anteriores.
Ele disse ainda que os países fora dos acordos multilaterais de combate ao aquecimento global terão inflação mais alta, numa mensagem indireta aos Estados Unidos, que sairão do Acordo de Paris — um pacto global para conter a crise climática — por ordem do presidente norte-americano, Donald Trump. O secretário da ONU, no entanto, não mencionou o nome de Trump no seu discurso de abertura. “Aqueles que optam por ficar de fora ou tomar medidas tímidas enfrentam estagnação e preços mais elevados, enquanto outras economias avançam rapidamente”, disse ele.
“Todas as ações para construir resiliência ajudam a salvar vidas, fortalecer comunidades e proteger as cadeias de abastecimento globais das quais todas as economias dependem. Esta é a história de crescimento do século XXI — a transformação económica da nossa era”, declarou. Nascido em Granada (pequeno país de 114 mil habitantes no Caribe), Stiell destacou que o mundo precisa definir como fará a transição dos combustíveis fósseis para fontes de energia limpa. “Já concordamos que iremos abandonar os combustíveis fósseis. Agora é o momento de nos concentrarmos em como fazer isso de uma forma justa e ordenada. Focando nos acordos a serem feitos para acelerar a triplicação das energias renováveis e duplicar a eficiência energética”, afirmou.
Na COP28, em Doha, os países concordaram pela primeira vez em incluir a palavra “transição” em relação aos combustíveis fósseis num documento, mas não definiram como isso será feito. Não há nenhum item específico para abordar esse tema na agenda de discussões da COP, mas ele deveria aparecer nos debates sobre “transição justa”.
Em discurso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a construção de um mapa sobre como se afastar dos fósseis. Historicamente, tem havido um forte lobby para que a forma como será realizada a transição dos combustíveis fósseis não ganhe uma agenda própria, segundo especialistas.
Leia também:
COP30 começa no Brasil — e a ausência de Trump paira sobre a cúpula do clima
COP30 começa na Amazônia com 143 países e foco em financiamento climático recorde
COP30: entre ritos e cargos, a missão de traduzir o clima beabá
Energia renovável
Em seu discurso, Stiell também destacou a necessidade de o mundo aumentar as fontes de energia renováveis e aumentar a eficiência energética, mas não mencionou a possibilidade de ampliar a produção de biocombustíveis, como o etanol. O governo brasileiro tem tentado incluir o tema nas discussões, tendo inclusive mencionado — em documento pré-COP — a necessidade de quadruplicar a produção de biocombustíveis até 2035.
O Brasil é um dos países que mais se beneficiaria com o aumento da demanda por biocombustíveis. No continente europeu, porém, a leitura é que a produção de matérias-primas para combustíveis ocupa espaço em terras que poderiam ser utilizadas para o cultivo de alimentos.
Críticas às NDCs
O secretário-executivo ressaltou ainda que o mundo precisa colocar em prática o “Roteiro de Baku a Belém por 1,3 trilhão” — documento elaborado pelas presidências da COP30, em Belém, e da COP29, no Azerbaijão, para alavancar o financiamento climático e chegar à cifra de US$ 1,3 trilhão a ser pago pelos países ricos para combater as mudanças climáticas. Stiell também afirmou que os compromissos de cada país não estão a reduzir as emissões de forma adequada.
Diante do fato de os países atrasarem ou não cumprirem suas metas de redução de emissões (as chamadas NDCs), como deveria ter acontecido este ano, o secretário pediu ao mundo que avance mesmo sem elas na luta contra o aquecimento. “Não precisamos de esperar que as NDC atrasadas cheguem lentamente para identificar a lacuna e conceber as inovações necessárias para a resolver.”
Stiell comparou a COP ao Rio Amazonas, “um vasto sistema fluvial sustentado e alimentado por mais de mil afluentes”. “Para acelerar a implementação, o processo COP deve ser apoiado da mesma forma – impulsionado pelas muitas correntes de cooperação internacional.”
Confira o discurso completo de Simon Stiell abaixo:
Há dez anos, em Paris, estávamos a projetar o futuro – um futuro que veria claramente o declínio da curva de emissões. Colegas, bem-vindos a esse futuro. A curva de emissões caiu. Graças ao que foi acordado em salas como esta, com os governos a legislar e os mercados a responder.
Mas não estou minimizando a situação. Temos muito mais trabalho a fazer. Precisamos de avançar muito, muito mais rapidamente, tanto na redução das emissões como no reforço da resiliência. A ciência é clara: podemos e devemos reduzir as temperaturas para 1,5°C após qualquer superação temporária.
Lamentar não é uma estratégia. Precisamos de soluções. Estamos aqui em Belém, na foz do Amazonas. E podemos aprender muito com este poderoso rio. A Amazônia não é uma entidade única, mas um vasto sistema fluvial sustentado e alimentado por mais de mil afluentes.
Para acelerar a implementação, o processo COP deve ser apoiado da mesma forma – alimentado por muitas correntes de cooperação internacional. Porque os compromissos nacionais individuais, por si só, não estão a reduzir as emissões com a rapidez suficiente.
Não precisamos de esperar que as NDC atrasadas cheguem lentamente para identificar a lacuna e conceber as inovações necessárias para a resolver. Nenhuma nação pode permitir-se isto, uma vez que os desastres climáticos reduzem o PIB em dois dígitos.
O dumping enquanto as megassecas destroem as colheitas nacionais, provocando a subida dos preços dos alimentos, não faz qualquer sentido – económica ou politicamente. As discussões à medida que a fome se espalha, forçando milhões de pessoas a fugir dos seus países de origem, nunca serão esquecidas à medida que os conflitos se espalham.
Embora os desastres climáticos dizimem a vida de milhões de pessoas, quando já tivermos as soluções, isso nunca, jamais, será perdoado. A economia desta transição é tão indiscutível como os custos da inacção.
A energia solar e eólica são agora as fontes de energia de menor custo em 90% do mundo. A energia renovável ultrapassou o carvão este ano como principal fonte de energia do mundo. O investimento em energia limpa e infra-estruturas atingirá outro recorde este ano – com os investimentos em energias renováveis a ultrapassarem os combustíveis fósseis na proporção de 2 para 1.
Então, o que precisa ser decidido aqui em Belém para adequar as oportunidades à dimensão da crise que enfrentamos? Porque já concordamos que abandonaremos os combustíveis fósseis. Agora é hora de nos concentrarmos em como fazer isso de maneira justa e ordenada.
Concentrar-se nos acordos a assinar para acelerar a triplicação das energias renováveis e a duplicação da eficiência energética. Já concordámos em fornecer pelo menos 300 mil milhões de dólares em financiamento climático, com os países desenvolvidos a assumirem a liderança. Agora precisamos de pôr em prática o Roteiro Baku-Belém para começarmos a avançar para 1,3 biliões de dólares.
Já acordámos num objectivo de adaptação global. Agora precisamos de chegar a acordo sobre indicadores que ajudarão a acelerar a implementação, para desbloquear o seu potencial. Já chegámos a acordo sobre uma meta de adaptação global. Agora precisamos de chegar a acordo sobre indicadores que ajudarão a acelerar a implementação, para desbloquear o seu potencial.
Já concordamos que os caminhos de transição devem ser inclusivos e justos, abrangendo economias e sociedades inteiras. Agora temos de chegar a acordo sobre medidas concretas para transformar aspirações em ações.
Já chegamos a um acordo sobre um Programa de Implementação de Tecnologia. Vamos colocar isso em prática. É essencial obter resultados sólidos e claros em todas estas questões. É assim que sinalizamos ao mundo que a cooperação climática está a produzir resultados.
Em Belém temos que unir o mundo das negociações com as ações necessárias na economia real.
A Agenda de Acção não é algo “bom de ter” – é fundamental para a missão. Mais do que isso, está totalmente alinhado com os interesses esclarecidos de todas as nações. Cada gigawatt de energia limpa reduz a poluição e cria mais empregos. Todas as ações para criar resiliência ajudam a salvar vidas, fortalecer comunidades e proteger as cadeias de abastecimento globais das quais todas as economias dependem.
Esta é a história de crescimento do século XXI – a transformação económica da nossa era. Aqueles que optam por ficar de fora ou tomar medidas tímidas enfrentam estagnação e preços mais elevados, enquanto outras economias avançam rapidamente.
Parafraseando o presidente Roosevelt há mais de um século: não é o crítico que conta, nem aquele que aponta onde o realizador poderia ter feito melhor. O mérito é de quem está realmente na arena, com o rosto manchado de poeira, suor e sangue, que luta com bravura.
Mas, amigos, deixem-me ser claro: nesta arena da COP30, o vosso trabalho não é lutar uns contra os outros – o vosso trabalho é combater a crise climática, juntos.
Paris está a trabalhar para alcançar progressos reais. Não vamos esquecer isso. Mas, amigos, devemos lutar bravamente por mais.
–
Canal 562 ClaroTV+ | Canal 562 Céu | Canal 592 ao vivo | Canal 187 Olá | Operadores regionais
TV SINAL ABERTO: antena parabólica canal 562
ONLINE: www.timesbrasil.com.br | YouTube
Canais RÁPIDOS: Samsung TV Plus, canais LG, canais TCL, Pluto TV, Roku, Soul TV, Zapping | Novos fluxos