Contas de luz avançam acima da média onde concentram data centers nos EUA

Os estados norte-americanos com o maior número de centros de dados registarão aumentos mais rápidos nas tarifas de eletricidade em 2025, impulsionados pelo aumento da procura de energia por parte da indústria de inteligência artificial. De acordo com a Administração de Informação de Energia dos EUA (EIA), as contas residenciais aumentaram em média 6% em agosto em comparação com o ano anterior, mas Virgínia, Illinois e Ohio registaram aumentos muito maiores.

Os data centers consomem cargas que podem ultrapassar 1 gigawatt por instalação, o equivalente ao uso de mais de 800 mil residências. Este crescimento aumentou a pressão sobre a rede eléctrica e tornou-se um factor central no debate político nas vésperas das eleições intercalares.

Máximas acima da média nacional

• Virgínia: +13% (666 data centers)
• Illinois: +15,8% (244 data centers)
• Ohio: +12% (193 data centers)

Esses estados são atendidos pela PJM Interconnection, maior operadora de rede elétrica dos EUA, responsável pelo abastecimento de mais de 65 milhões de pessoas. A PJM enfrenta um desequilíbrio entre a oferta e a procura que aumentou significativamente o custo da capacidade – um pagamento destinado a garantir que as centrais mantêm a disponibilidade futura de energia.

O leilão para o período 2024–2025 resultou em uma arrecadação de US$ 2,2 bilhões. Para 2025–2026, esse valor saltou para US$ 14,7 bilhões, um aumento de mais de 500%. De acordo com a Monitoring Analytics, responsável pela supervisão independente da PJM, a demanda real e prevista por data centers representou US$ 9,3 bilhões, ou 63% do custo total. No leilão seguinte, o valor chegou a US$ 16,1 bilhões.

“A reação contra as empresas de tecnologia é real”, disse Abraham Silverman, ex-assessor jurídico do Conselho de Serviços Públicos de Nova Jersey e pesquisador da Universidade Johns Hopkins. “Os data centers nem sempre são bons vizinhos. Eles tendem a ser barulhentos, podem causar incômodo e há comunidades, especialmente em regiões com muitas dessas instalações, que simplesmente não querem mais data centers”, acrescentou.

A tensão política aumenta à medida que as contas de energia aumentam

Na Virgínia, o estado com a maior concentração de data centers do mundo, a governadora eleita Abigail Spanberger venceu a disputa com uma campanha baseada no custo de vida. Spanberger afirmou que “os data centers precisam pagar seus próprios custos e sua parcela justa dos custos crescentes”.

Em Washington, os membros do Partido Democrata aumentaram as suas críticas à administração Trump. Os senadores Richard Blumenthal (Connecticut) e Bernie Sanders (Vermont) afirmaram que os “acordos privilegiados da Casa Branca com grandes empresas tecnológicas” não protegem os consumidores, “que estão a ser forçados a subsidiar o custo dos centros de dados”.

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Trump, por sua vez, tem defendido que a sua administração promova reduções de preços. Numa recente publicação nas redes sociais, ele declarou: “Os custos e a inflação eram muito mais elevados sob Joe Biden do que são agora. Na verdade, os custos sob a minha administração estão a cair drasticamente, impulsionados principalmente pela gasolina e pela energia. A acessibilidade é uma mentira quando usada pelos democratas. É uma farsa completa. Os custos do Dia de Acção de Graças são 25% mais baixos este ano do que no ano passado sob Joe Biden. Somos o Partido da Acessibilidade”.

Outros fatores de pressão sobre as tarifas

Silverman observa que a expansão dos data centers é um fator determinante, mas não o único impulsionador do aumento das contas de eletricidade. Ele cita a necessidade de modernização da rede elétrica, o avanço da eletrificação da economia, o crescimento da indústria nacional e o aumento de dois dígitos no custo de construção de linhas de transmissão. “É um componente importante da crise de acessibilidade que estamos enfrentando agora”, disse ele.

Para ele, o processo da PJM para colocar novas fontes de energia na rede também enfrenta obstáculos: “O processo da PJM para colocar novas fontes de energia online falhou completamente”. Os subsídios da Lei de Redução da Inflação aceleraram a apresentação de projetos de energias renováveis, mas as análises podem levar até cinco anos.

O órgão de fiscalização da PJM disse que embora a rede possa enfrentar escassez de energia sem centros de dados, o crescimento da procura seria menor, dando mais tempo para o mercado se adaptar. “É enganoso afirmar que os resultados do mercado de capacidade são apenas um reflexo da oferta e da procura”, destacou a agência, classificando o aumento da carga dos data centers como “sem precedentes”.

Estados onde o impacto é menor

Texas

• Centros de dados: 409
• Aumento de tarifa: +3,8%

O Texas é atendido pela ERCOT, operadora própria, que possui processo mais rápido de conexão de novas fontes de energia, com prazos médios em torno de três anos.

Califórnia

• Centros de dados: 321
• Aumento de tarifa: +1,2%

A Califórnia mantém algumas das taxas residenciais mais altas do país, cerca de 80% acima da média nacional, devido aos custos relacionados com a prevenção de incêndios florestais. Apesar disso, o aumento anual ficou abaixo da média nacional.

A maior concessionária do estado, PG&E, disse que espera estabilidade nas tarifas após remover os custos de prevenção de incêndio das contas dos clientes.

Trump prometeu cortar as tarifas de electricidade para metade no seu primeiro ano de mandato, mas as actuais condições da rede e a velocidade de expansão dos centros de dados indicam que os preços deverão permanecer sob pressão.

“É difícil imaginar que as contas de eletricidade irão diminuir nesta década”, disse Rob Gramlich, presidente da consultoria Grid Strategies.

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