Num mundo em que a crise climática já não é uma ameaça distante, mas sim uma realidade tangível que inunda as cidades e seca os reservatórios, a procura de soluções torna-se a agenda mais rentável do século.
A edição de 2025 da Conferência do Clima da ONU, que acontece em Belém, no Pará, teve a primeira plenária dedicada ao uso de tecnologia de ponta para acelerar a Economia Verde. A discussão elevou a inteligência artificial ao patamar de “aliada estratégica” no enfrentamento do apocalipse ambiental.
Para aqueles que estão habituados a ver a inovação como a panaceia para qualquer problema de balanço, a notícia soa como música. Afinal, por que se preocupar com a velha e suada transição energética quando você pode terceirizar a salvação do planeta para um algoritmo?
A retórica da COP30 é sedutora. Fala-se de plataformas globais, como o “Centro de Ação Digital Verde”, e do lançamento de um Instituto de Inteligência Artificial (IA) para apoiar os governos na ação climática.
O Brasil ainda se vangloria de seus “exemplos de sucesso”, como o sistema de alerta da Defesa Civil e a agilidade no uso da plataforma “gov.br” para distribuição de benefícios em meio a catástrofes, como as enchentes no Rio Grande do Sul. É a imagem perfeita: a tecnologia – rápida e eficiente – chegando para mitigar o que a ineficiência humana e corporativa ajudou a criar.
A ironia do consumo silencioso
No entanto, para o leitor mais atento existe uma ironia de proporções épicas no cerne desta estratégia digital. Embora a IA seja apontada como o farol da sustentabilidade, o próprio recurso consolida-se como um dos consumidores mais vorazes dos recursos que a COP30 pretende proteger: água e energia.
O avanço da inteligência artificial, especialmente dos modelos generativos que hoje ditam moda e produtividade, requer uma infraestrutura colossal. Os data centers, modernos templos da informação, tornaram-se verdadeiras “fontes de água” e “chaminés” digitais.
Desde 2017, o consumo de eletricidade destes centros duplicou, impulsionado pela necessidade de hardware especializado, como Unidades de Processamento Gráfico (GPU). Estima-se que, num futuro próximo, apenas a IA poderá consumir anualmente uma quantidade de energia equivalente a 22% dos lares americanos.
Pensando em uma escala menor, pasmem: uma única consulta ChatGPT pode consumir até 1,5 litro de água. O treinamento do chatbot mais popular da atualidade consumiu cerca de 50 gigawatts-hora de energia, o que seria suficiente para abastecer 330 mil residências brasileiras de médio porte por um mês.
Mas o fato mais chocante é o consumo de água. Para resfriar os servidores que processam a próxima grande ideia ou resposta trivial em uma das centenas de inteligências artificiais disponíveis hoje, os data centers utilizam milhões de litros de água. Sim, enquanto discutimos a escassez global de água, cada interação com a ferramenta que supostamente nos salvará do colapso climático requer o equivalente a uma garrafa de água potável.
O custo oculto da inovação
Este é o paradoxo da salvação digital: a ferramenta que promete optimizar a utilização de recursos e prever desastres climáticos está, no seu próprio funcionamento, a drenar recursos vitais e a aumentar a procura de energia, muitas vezes proveniente de fontes fósseis, para responder à urgência.
A falta de transparência de algumas grandes empresas tecnológicas sobre o consumo exacto dos seus modelos de IA apenas acrescenta uma camada de cinismo ao debate. Vendem a solução, mas escondem o custo real de produção.
Para o executivo que procura retorno do investimento (ROI) em sustentabilidade, a mensagem é clara: a tecnologia é, de facto, uma aliada poderosa. Mas ela não é um milagre. A Inteligência Artificial pode ser a bússola que nos guia para sair da tempestade, mas se o navio for movido a carvão e a tripulação consumir todos os recursos vitais, o destino final será o mesmo.
A verdadeira inovação não consiste apenas em criar o próximo algoritmo sofisticado, mas em desenvolver uma IA que seja inerentemente sustentável, que não resolva um problema criando outro.
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