As novas medidas tarifárias adotadas pelos Estados Unidos contra a China reacenderam preocupações sobre os efeitos da disputa comercial no mercado internacional. O professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), Pedro Brites, avaliado, em entrevista ao jornal Equipe realde Times Brasil – CNBC exclusivo licenciadoOs possíveis reflexos de escalada entre os dois países para a economia brasileira.
“A guerra comercial iniciada por Trump já tem efeitos no Brasil”, disse Brites. Segundo ele, a taxa de 10% anunciada pelos Estados Unidos não representa o cenário mais sério para o Brasil no momento, mas as consequências podem falar em outras frentes.
“O Brasil não está entre os mais danificados no momento imediato, mas temos que pensar em todas as cadeias de eventos que se originam”, explicou. Entre os pontos destacados, o professor apontou o risco de redirecionar produtos chineses para mercados já ocupados pelo Brasil. “Eles não ocuparão outros mercados que o Brasil hoje ocupa ou entrarão aqui no Brasil e serão fortes concorrentes para a indústria brasileira?” Ele perguntou.
Segundo Brites, esse tipo de movimento pode afetar o país no médio prazo. Além disso, o professor enfatizou que a disputa prejudica o ambiente institucional internacional, com impacto direto na estratégia de inserção global adotada historicamente pelo Brasil.
“O Brasil sempre confiou muito nas instituições internacionais como o principal mecanismo geral de inserção. Como você tem uma crise, onde as instituições perdem força, onde os países acabam adotando medidas unilaterais, isso enfraquece a posição brasileira em geral”, disse ele.
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Efeitos na economia
O professor também comentou os efeitos sobre setores específicos da economia. Ele citou o caso de aço, que mesmo após a aplicação de uma tarifa de 25% pelos Estados Unidos, teve um aumento nas exportações brasileiras. Para Brites, o comportamento foi pontual. “É um setor muito específico, já tinha ordens também. Nem todos os setores de nossa economia são tão resilientes”, disse ele.
Entre os setores mais vulneráveis, os Brites destacaram produtos industrializados, como aeronaves e mercadorias com maior valor agregado. “Os Estados Unidos são um parceiro muito relevante para o Brasil, especialmente no que diz respeito aos nossos produtos industrializados. Além do aço, também.
O professor alertou que a inflação nos Estados Unidos, se resultar em um cenário recessivo, poderá atingir diretamente as exportações brasileiras. “Se pensarmos na consolidação de um cenário inflacionário na economia americana e, eventualmente, uma hipótese de recessão, isso pode impactar essas exportações para esses setores centrais, especialmente para as economias aqui no sudeste do Brasil”, disse ele.
Impactos para o Brasil
Nos impactos inflacionários no Brasil, Brites disse que o cenário internacional afeta diretamente os preços internos, especialmente alimentos e combustíveis. “Já dependemos de muitos produtos calculados no mercado internacional de commodities. Isso afeta principalmente a inflação alimentar”, observou ele.
O professor acrescentou que a oscilação da taxa de câmbio expande essa pressão. “Se pensarmos nesse boom do dólar atingir mais de US $ 6, isso gera efeitos em cascata para a economia brasileira, que gera pressão inflacionária que já foi uma preocupação do governo e do banco central nos últimos meses”, disse ele.
Na avaliação de Brites, setores como carne podem se beneficiar da nova configuração comercial global se o Brasil não estiver incluído em tarifas mais altas. “A indústria de carne na frente também pode ser um parceiro importante, porque se essas tarifas começarem a ser válidas e se outros parceiros forem realmente tributados, o Brasil recebeu menos tarifas, poderá ganhar mercados de outros concorrentes nesses setores”, explicou.
O professor também apontou possíveis ganhos com acordos comerciais em negociação. “Isso não abre espaço para o Brasil ganhar mais mercados na Europa, à medida que avançamos em um acordo com a União Europeia? No Japão, por exemplo, onde o presidente Lula fez uma viagem recentemente?” Ele disse. “Existem essas oportunidades em alguns setores -chave”.
Impactos na China
A postura da China em resposta às tarifas americanas também foi analisada. O professor observou que o país asiático respondeu com maior tarifas para até 125% e reforçou seu compromisso com instituições multilaterais.
“A China tenta se colocar globalmente. Como a China toma medidas para responder proporcionalmente às medidas tomadas pelos Estados Unidos, mas sem tentar escalar essa guerra comercial, evita isso. É uma tentativa de se mostrar um parceiro confiável para outros países”, disse ele.
Segundo ele, a China chamou a Organização Mundial do Comércio (OMC) como uma maneira de demonstrar confiança no sistema multilateral. “Era simbólico nesse sentido que a China reivindicou com a OMC, ou seja, mostrando que confia em instituições internacionais”.
No nível interno, a necessidade de demonstrar firmeza diante das medidas americanas também é uma preocupação para o governo chinês. “A China não será capaz de retaliar até certo ponto, pois isso pode ter um impacto negativo na China. Mostrando fraqueza diante das pressões dos Estados Unidos enfraqueceriam o discurso da soberania chinesa”, explicou ele.
Brites avaliou que a estratégia da China é manter a firmeza, mas evitar escalar o conflito. “Ela tenta colocar um freio, colocar alguns panos quentes, mas sem mostrar vulnerabilidade. Partindo, em uma posição mais conservadora, esperando os movimentos dos Estados Unidos e tentando reagir a eles”, concluiu.
Alckmin se reunindo com o Ministro do Comércio da China
O professor também comentou sobre a reunião entre o vice -presidente Geraldo Alckmin e o ministro da China, Wang Wenta. A reunião reforçou os laços comerciais entre os dois países.
“A China tem tentado se consolidar como parceiro de países -chave nas regiões de que aumentou sua participação e a América Latina é uma delas. Nesse caso, o Brasil é um parceiro muito relevante”, disse Brites.
Para ele, o relacionamento sino-brasileiro deve ser fortalecido como parte da estratégia da China de reposicionar no cenário global. “Essa abordagem do Brasil tem relevância de se aproximar de mercados, gerando oportunidades de negócios que são fundamentais para a China no momento”.
Brites também disse que esse relacionamento ajuda a reforçar o papel da China no grupo BRICS e no G20. “Relembra a China como um ator fundamental, como um dos protagonistas dessas negociações do sul global”, disse ele.
Finalmente, ele avaliou que o Brasil também está interessado em manter esse canal de diálogo. “A China é nosso principal parceiro comercial e também reforça essa necessidade mútua de confiar em instituições internacionais. Foi um pouco do tom do que vimos na conversa entre o vice -presidente Alckmin e o ministro chinês”.
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