A Câmara Municipal de São Paulo aprovou em primeiro turno nesta quinta-feira (12/04) um projeto de lei para regulamentar o transporte de passageiros em motocicletas na capital paulista. O texto exige que os mototaxistas façam curso e utilizem placa vermelha em seus veículos. Também proíbe o atendimento no centro ampliado e nas áreas marginais, além de restringi-lo em dias de fortes temporais (leia mais abaixo).
A proposta foi aprovada por 29 votos a favor e oito contra. O texto original do projeto foi alterado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara. A diretoria retirou uma taxa que as empresas teriam que pagar à Prefeitura para serem credenciadas para oferecer o serviço. A segunda votação da proposta está marcada para segunda-feira, dia 8, quando alterações no projeto serão analisadas pelos vereadores.
Desde 2023, a Prefeitura e as empresas Uber e 99 brigam na Justiça pela liberação do serviço na cidade. Após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que os municípios não podem proibir os mototáxis, as empresas de transporte baseadas em aplicativos anunciaram o início do serviço a partir de 11 de dezembro.
O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) determinou que a Prefeitura regulamente o modal até a próxima semana. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) ainda tenta reverter as decisões.
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O projeto
Na quarta-feira (12/03) a subcomissão do serviço de transporte individual de passageiros por motocicleta da Câmara apresentou a proposta de regulamentação. Veja os principais pontos:
As empresas (como Uber e 99) que oferecem o serviço precisam:
. ser credenciado pela Prefeitura, processo que pode levar até 60 dias a partir da solicitação do credenciamento. A credencial é válida por um ano;
. contratar seguro contra acidentes, com cobertura para motorista, passageiro e terceiros;
. apresentar plano de instalação de pontos de descanso e estacionamento para mototaxistas;
. permitir que o serviço seja realizado apenas por motoristas cadastrados na Prefeitura;
. disponibilizar dados à Prefeitura;
. ter um dispositivo limitador de velocidade no aplicativo
O mototaxista deverá:
. ter pelo menos 21 anos;
. ser titular de Carta Nacional de Condução categoria “A” ou “AB” há pelo menos dois anos;
. estar cadastrado na Prefeitura;
. realizar curso especializado para transporte de passageiros em motocicletas, de acordo com o Conselho Nacional de Trânsito;
. fornecer aos passageiros capacete em bom estado e boné descartável;
. não ter infração de trânsito gravíssima nos últimos 12 meses;
. não ter sido condenado por crimes de homicídio, roubo, violação, corrupção de menores, contra a mulher por razões do sexo feminino ou contra a dignidade sexual;
. ser contribuinte regular do INSS;
. realizar exame toxicológico com janela de detecção mínima de 90 dias
A motocicleta precisa de:
. ter uma placa vermelha;
. não ter mais de oito anos desde a fabricação;
. possuem alças metálicas traseiras e laterais para apoio dos passageiros;
. possuir potência de motor entre 150 cm³ e 400 cm³;
. ter um aparador de linha no guidão do veículo
É proibido o transporte de passageiros em motocicleta:
. em corredores e faixas exclusivas para ônibus;
. durante eventos climáticos intensos, como tempestades, ventos de baixa visibilidade e inundações;
. em estradas de trânsito rápido, como estradas marginais;
. no centro expandido (áreas onde o rodízio é válido);
. na zona de restrição máxima à circulação de caminhões
Em caso de descumprimento, poderá haver advertência por escrito, multa, suspensão ou cassação do registro do mototaxista e suspensão ou cassação do credenciamento da empresa. A multa para empresas varia de R$ 4 mil a R$ 1,5 milhão. Caso a infração persista, a multa poderá ser fixada por dia.
Debate sobre a proposta
A Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec) – entidade que reúne 99, Uber, Lalamove, Buser, iFood, Zé Delivery Amazon, Shein, Alibaba, Flixbus e nocnoc – criticou o projeto. “É inconstitucional, pois cria um conjunto de restrições que, na prática, inviabiliza o funcionamento do serviço na cidade de São Paulo ao impor limitações ao condutor, à motocicleta e aos locais de utilização”, argumenta em nota.
A entidade afirma que a proposta tenta paralisar o serviço ao exigir credenciamento prévio de empresas e motociclistas, sem prazo máximo para prorrogação da análise pela prefeitura – “o que permite ao município não autorizar nenhum aplicativo ou motorista”, afirmam. “Na prática, cria uma proibição disfarçada, já rejeitada pelos tribunais em decisões unânimes.”
A Amobitec afirma ainda que parte dos requisitos – como o sinal vermelho – foge à competência das Autoridades Municipais. Por exemplo, legislação federal específica para transporte via aplicativos. “Os municípios não podem criar barreiras desproporcionais, nem criar regras não previstas na legislação nacional.”
O prefeito Ricardo Nunes afirmou nesta quarta-feira que, caso não consiga proibir o serviço na Justiça, sancionará a regulamentação. “Acredito que o STF vai reverter essa situação e reconhecer o meu decreto que proíbe essa atividade. Ainda temos recursos na Justiça. E se por acaso perdermos, o regulamento será publicado”, disse aos jornalistas.
O prefeito defende que as empresas não podem iniciar o serviço no dia 11. Segundo ele, as empresas precisam aguardar a decisão do STF. E mesmo que a gestão perca, diz ele, terá de cumprir os requisitos regulamentares. “Nosso regulamento prevê treinamento, prevê placa vermelha, prevê registro, prevê uma série de critérios de segurança para proteger a vida da pessoa.”
Questionados, 99 e Uber não comentaram. O Estadão apurou que o plano das empresas continua sendo iniciar as operações no dia 11 de dezembro.
O relator do projeto, vereador Paulo Frange (MDB), da base do prefeito, destaca que o projeto é resultado de oito meses de trabalho da subcomissão de mototáxis, 17 reuniões colegiadas, duas audiências públicas, depoimentos de mais de 50 especialistas, porta-vozes de empresas e autoridades, e um relatório de 650 páginas. “Não faltou estudo nem tentativa de regulamentação. Estávamos em busca de uma solução técnica. O mais importante é ter uma legislação clara, preservando a vida. Os mototaxistas precisam trabalhar, precisam levar dinheiro para casa, mas antes precisam voltar para casa.”
Presidente da subcomissão, a vereadora Renata Falzoni (PSB) afirma que o projeto de lei aprovado no colegiado já cortou excessos que impediam a disponibilização do serviço. “O projeto original de Paulo Frange tinha pegadinhas, no sentido de que a prefeitura poderia inviabilizar o serviço por burocracia ou omissão. Tiramos todas essas brechas, tudo que prejudicava motoristas e empresas, tornamos muito viável”.
Promessas da empresa
Antes da apresentação do projeto de lei, a Uber e a 99 anunciaram medidas que prometeram cumprir, independentemente da regulamentação. Entre as ações, está a exigência de que o motorista tenha no mínimo 21 anos e também treinamentos presenciais periódicos. Veja as medidas anunciadas:
. Compartilhamento de dados – Transferência de informações agregadas e anonimizadas de cada empresa para o setor público para planejamento de mobilidade, engenharia rodoviária, redução de acidentes e campanhas de educação no trânsito, transferindo inteligência e dados às autoridades, em conformidade com a lei de proteção de dados;
. Habilitação de condução – Exigência de que os motociclistas tenham idade mínima de 21 anos, além de carteira de habilitação com EAR (Desempenha Atividade Remunerada);
. Formação em segurança – Ações contínuas de formação em condução defensiva e boas práticas para motociclistas, além de formações presenciais periódicas, em parceria com instituições reconhecidas.
. Distribuição de equipamentos – Doação de coletes refletivos, segundo as empresas, “para os motoristas mais engajados”.
.Monitoramento e avaliação – Utilização de tecnologia de detecção de padrões de risco (como velocidade e freadas bruscas) para implementação de alertas, feedback, conteúdo educacional e políticas de restrição. Haverá também incentivos para reconhecer e recompensar os motoristas que adotam práticas seguras.
As empresas destacaram ainda que os motoristas que apresentarem infrações graves e condutas perigosas, como dirigir na contramão da via, terão suas contas desativadas. “Se o motociclista não estiver respeitando as leis de trânsito, ele primeiro passa por um bloqueio de correção por 30 dias. Se não melhorar seu comportamento, infelizmente, terá que sair da plataforma, pois não podemos ter atendimento que viole as regras de segurança e coloque os usuários em risco”, disse Irina Frare Cezar, diretora de Relações Governamentais da 99.
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