A tão esperada reunião entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Estados Unidos, Donald Trumpprogramado para acontecer neste Domingo (26) durante o Cimeira da ASEANna Malásia, ocorre sob uma mistura de expectativas diplomáticas e urgência económica.
Segundo fontes de Itamaraty e de Casa Brancaa reunião deve abordar principalmente o Tarifa de 50% imposta por Washington às exportações brasileirasmas também cobrem tópicos delicados, como crise na Venezuela e o papel de Brasil nas negociações de paz regional.
Caminho da sabedoria
Para o economista e professor de Relações Internacionais da ESPM, Leonardo Trevisano momento marca uma importante virada na política externa de ambos os países.
“Há um caminho de boa vontade e sabedoria entre os dois partidos, ainda que por motivos diferentes”, avalia. “Trump chega pressionado pela resistência interna ao preços — não só no sector agrário, mas também em empresários americanos com cadeias produtivas ligadas ao Brasil. Eles são seis mil empresas que dependem desta relação bilateral.”
Trevisan destaca ainda que produtos brasileiros como carne, café e frutas tropicais ter um impacto direto Inflação americanao que reforça a necessidade de um acordo. “Trump chega à mesa sob pressão da realidade econômica – e a realidade, mesmo para ele, sinaliza a favor do Brasil.”
Do lado brasileiro, Lula chega com vantagem diplomática. “Brasil não revidou e manteve o diálogo aberto. O Chanceler Mauro Vieira desempenhou um papel central nas reuniões com Marco RubioSecretário de Estado americano, deixando claro que o país pertence ao Ocidente e mantém equilíbrio nas relações com a China. Isso abriu portas”, afirma o professor.
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Economia e política num quadro global
O analista Rodrigo Loureiro reforça que a reunião deve influenciar diretamente os mercados.
“Seja qual for o resultado, a reunião tem o potencial de fazer preço na segunda-feira. Ele pode selar a paz comercial ou aprofundar o conflito tarifário”, explica ele.
Segundo Loureiro, o tarifas já causaram queda de 22% nas exportações brasileiras em agosto e até Contração de 50% em setembro em alguns estados. O setor madeireiro foi um dos mais atingidos, com 10 mil empregos afetados e 4 mil demissões. “É uma relação que importa para ambos os lados, mas prejudica mais a economia brasileira. Se não houver reversão, torna-se um bola de neve econômica.”
Para os EUA, a medida também tem o seu preço. Tarifas em café, sumo de laranja e Madeira aumentaram os custos dos factores de produção e pressionaram a oferta dos sectores industriais. “Trump tem motivações eleitorais para resolver a questão – ele não quer ser visto como o ‘presidente dos aumentos de preços’ às vésperas de eleições intercalares”, lembra o analista.
Diplomacia em campo e calma nos bastidores
Direto de Kuala Lumpur, o correspondente Diego Mezzogiorno informou que o clima entre delegações é de confiança e tranquilidadeespecialmente depois do discurso de Trump no Força Aérea Um confirmando que a reunião deve ocorrer.
“O Itamaraty e o Departamento de Estado estão trabalhando discretamente para definir o local e o horário, mas o clima é positivo. Assessores de ambos os governos acredito que há espaço para redução tarifária”, relatou.
Mezzogiorno lembrou que a ASEAN – bloco que reúne as economias do Sudeste Asiático, com um PIB combinado de US$ 4 trilhões – foi palco de novos acordos estratégicos do Brasil, incluindo um parceria tecnológica com a Malásia na área de microchips e acordos de exportação de carne. “Lula chega na reunião com capacidade de articulação internacional reforçada e com o Brasil posicionado como ator central na nova geopolítica global.”
Tema delicado: Venezuela
Trevisan também chama a atenção para outro ponto da agenda: o Crise venezuelana e o risco de escalada militar. “Este tema é mais delicado que as tarifas. O Brasil levará a mensagem de que nenhum país da América do Sul – nem mesmo o Argentina por Javier Milei – está interessado na intervenção americana. As guerras sempre começam fáceis, mas ninguém sabe como eles terminam”, alerta.
Segundo ele, Trump pode usar a retórica bélica para acalmar setores internos nos EUA, mas “a realidade não aponta para uma invasão”. “Lula deve ser o porta-voz da vontade comum da América do Sul por uma solução pacífica.”
Entre o pragmatismo e a política
Entre pressões comerciais, demandas eleitorais e movimentos geopolíticoso encontro entre Lula e Trump tende a ser mais pragmático do que ideológico.
Como resume Loureiro: “São dois líderes com perfis opostos, mas que precisam um do outro. Os EUA precisam do Brasil, e o Brasil precisa muito dos EUA.”