Como o Grupo Mateus virou uma potência do varejo brasileiro – Times Brasil

Naquele 1986 marcado pelo otimismo do Plano Cruzado, quando o país acreditava ter domado a inflação e o time de Telê Santana era tratado como favorito à Copa do México, um jovem maranhense começou a construir, quase anonimamente, as bases do império que levaria seu sobrenome ao topo do varejo brasileiro. Em Balsas, então com apenas 23 mil habitantes, Ilson Mateus Rodrigues abriu o seu primeiro armazém aos 22 anos.

A história do empresário começa ainda antes disso, na vizinha Imperatriz, onde trabalhou como engraxate, torneiro, mineiro e vendedor de cachaça. Este percurso diversificado antecedeu a abertura da pequena mercearia de 50 metros quadrados que, décadas mais tarde, se tornaria o Grupo Mateus.

A expansão começou a se concretizar em 1997, com a entrada no segmento de eletrodomésticos. Em 2000, foram abertas as primeiras lojas fora de Balsas, chegando a Imperatriz, Santa Inês e São Luís. O movimento iniciado no Maranhão logo avançaria para o Pará, Piauí e, posteriormente, por todo o Nordeste.

Em 2025, Mateus já ocupava o cargo de terceiro maior grupo varejista de alimentos do Brasilatrás apenas do Carrefour e do Assaí, e à frente do Pão de Açúcar, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS).

Pouco antes da crise desencadeada pela revisão de stocks de milhares de milhões de dólares divulgada em Novembro de 2025, o grupo registou um forte crescimento. No terceiro trimestre daquele ano, o receita o lucro líquido aumentou 29%, para R$ 10,7 bilhões, impulsionado pela aquisição do Novo Atacarejo. O lucro líquido atingiu R$ 509 milhões e as vendas nas mesmas lojas (SSS) aumentaram 3,5%.

Entre julho e setembro, Mateus abriu 13 unidades de atacado, cash-and-carry e supermercados, todas na região Nordeste, onde o grupo afirma ter cerca de 31% de participação de mercado. No total, a rede conta com 306 lojas espalhadas pelo Maranhão, Pará, Piauí, Ceará, Bahia, Sergipe, Pernambuco, Alagoas e Paraíba, apoiadas por 19 centros de distribuição.

O Grupo Mateus reforçou que a recente expansão segue uma estratégia multicanal. A empresa aposta na combinação de lojas físicas em diferentes formatos — ruas, shopping centers e grandes pontos de venda — com a expansão das operações digitais.

A integração entre canais, afirma o grupo, amplia o alcance da marca, fortalece sua presença nos estados onde já atua e oferece alternativas de compra capazes de atingir diferentes perfis de consumidores, em diferentes momentos da jornada de consumo.

O ambiente económico que impulsionou o sector

Segundo a ABRAS, a situação de 2024 ajudou a criar condições favoráveis ​​para o avanço do varejo alimentar. O consumo das famílias cresceu 4,8%, segundo o IBGE —o melhor resultado desde 2011. O desemprego caiu para 6,2% ao final do ano, com média de 6,6%, o menor nível da série histórica iniciada em 2012.

O rendimento médio real atingiu R$ 3.255, enquanto a massa salarial cresceu 7,7%, ultrapassando R$ 330 bilhões. Programas de transferência de renda — como Bolsa Família, Auxílio Gás e Pé-de-Meia — reforçaram o movimento, levando 8,7 milhões de brasileiros a escapar da pobreza e ingressar no mercado consumidor.

Mesmo diante da inflação mais elevada em alimentos e bebidas, de 7,69% no ano, a melhora da renda garantiu a manutenção do consumo. O impacto positivo também se refletiu no emprego: o varejo autoatendimento reúne mais de 9 milhões de trabalhadores em 424 mil lojas em todo o país.

Para Marcio Milan, vice-presidente da ABRAS, o setor passou por um ciclo de sólida recuperação após anos difíceis. Ele destaca que o crescimento de 6,5% em 2024 contrasta com o ritmo de 1,8% registrado em 2014, reforçando a resiliência das grandes redes — incluindo o Grupo Mateus.

Em números gerais, o varejo alimentar brasileiro registrou R$ 1,067 trilhão em receita em 2024equivalente a 9,12% do PIBservindo aproximadamente 30 milhões de consumidores.

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